“A ocasião de reunificar Chipre está hoje, finalmente, perante nós”, assinala Guterres, que em janeiro participou na abertura da conferência no Mont-Pèlerin, junto ao lago Léman, na Suíça.
“Apelo a todos os participantes para aproveitarem esta oportunidade, em primeiro lugar por Chipre, mas também pelo conjunto da região do Mediterrâneo Oriental”, refere ainda na sua mensagem.
As conversações sobre a reunificação de Chipre recomeçam quarta-feira na localidade suíça de Crans-Montana sob a égide do mediador norueguês da ONU, Espen Barth Eide, que considerou “possível uma solução” numa “ocasião única” para solucionar um conflito com mais de 40 anos.
No entanto, e após o falhanço da anterior ronda negocial de janeiro também manifestou prudência. “Não vai ser fácil nem existe qualquer garantia de sucesso”, disse hoje em declarações aos jornalistas em Genebra.
O Presidente da República de Chipre, Nikos Anastasiades, e o dirigente cipriota turco, Mustafa Akinci, encontram-se quarta-feira na estância alpina de Crans-Montana após quase cinco meses de interrupção.
Os dois líderes cipriotas vão ser acompanhados, pelo menos no primeiro dia, pelos ministros dos Negócios Estrangeiros dos países “garantes” da segurança da ilha: Grécia, Turquia e Reino Unido, ex-potência colonial. O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, também vai estar presente na qualidade de observadora, na sequência da adesão de Chipre à União em 2004.
O mediador da ONU afirmou que dos seis capítulos em discussão, foram obtidos “progressos importantes” em cinco no decurso das conversações de janeiro: partilha da governação, restituição das propriedades espoliadas, questões económicas, relações com a UE e partilha territorial entre as duas comunidades.
Sobre a questão territorial, Eide recordou os “progressos sem precedentes” registados em janeiro devido à troca de mapas do futuro Estado federal, que a ONU conserva.
Sobre o sexto capítulo, a segurança do futuro Estado, o mediador reconheceu que “os pontos de vista são diametralmente opostos”.
Atualmente, os três “garantes” da segurança da ilha mantêm o direito de intervir militarmente.
Nicósia, apoiada por Atenas, pressiona pela abolição do direito de intervenção unilateral por um país terceiro e exige um calendário claro para a retirada progressiva das tropas turcas.
Os cipriotas turcos pretendem manter uma presença militar turca na sua futura zona.
O Reino Unido, ex-potência colonial que sucedeu na ilha ao Império otomano na segunda metade do século XIX, possui ainda duas bases militares (Akrotiri e Dhekelia) na parte sul da ilha. Londres sugeriu a restituição de 49% (117 km2) do território ocupado pelas suas bases em caso de resolução do conflito.
A base do acordo para garantir a reunificação de Chipre consiste na criação de um Estado federal com dois estados constituintes — um cipriota grego e outro cipriota turco — com uma única soberania, cidadania comum e uma única personalidade internacional.
A ilha de Chipre permanece dividida desde a invasão de 1974 pelas tropas turcas do terço norte da ilha, após um fracassado golpe de Estado ultranacionalista apoiado pela junta militar no poder em Atenas, que pretendia a união de Chipre à Grécia.
Desde então, “capacetes azuis” da ONU controlam a “linha verde”, uma zona-tampão desmilitarizada que separa as duas comunidades.
A República de Chipre (parte grega internacionalmente reconhecida), aderiu à UE em 2004. Previamente, a liderança cipriota turca optou por autoproclamar em 1983 a República Turca de Chipre do Norte (RTCN, apenas reconhecida por Ancara), com a Turquia a manter cerca de 40.000 soldados na parte norte.
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