A partir de cópias de “Square Cubes”, trabalho de 1967 de Posenenske (1930-1985), o violoncelista junta-se a peças sonoras sobre a cidade do Porto de quatro intérpretes do TUP, Francisco Aguiar, Gonçalo Albuquerque, Nuno Torres e Orlando Gilberto-Castro, para dar uma dimensão coletiva ao projeto “Medusa”, já apresentado a solo várias vezes em 2019, em Lisboa e em São Miguel, nos Açores.
A nova ‘vida’ da “explosão metafórica do instrumento” num espaço, com música criada e depois espacializada através de um sistema eletroacústico, estreia-se no espaço IRL, em Campanhã, pelas 21:00, com a duração de três horas.
A peça pode ser visitada a qualquer hora, ainda que a totalidade inclua “três momentos mais performáticos”, explicou Ricardo Jacinto à Lusa, com o público livre de se mexer e acompanhar a manipulação em tempo real, provocada por uma criação desenvolvida especificamente para aquele local, e tendo o trabalho minimalista da alemã em mente.
“Medusa” existe há vários anos e vive agora como “concerto-instalação para violoncelo, eletrónica, som gravado e objetos ressonantes”.
“O trabalho da Charlotte Posenenske surgiu como uma hipótese de encontro deste trabalho mais coletivo. ‘Square Cubes’ é um desenho de seis elementos que lembram condutas de ar condicionado, (...) sobre industrialização e com caráter modular, tendo a capacidade de ser replicado as vezes que forem necessárias”, referiu o músico.
O resultado é um “jogo espacial em que se podem articular estas diferentes peças sonoras” e interrogar “diretamente a arquitetura”, sendo exibido como “narrativa espacial” num local em que os objetos podem ser deslocados ou manipulados sob um ‘pano de fundo’ industrial, recentemente reconfigurado.
Num momento em que faz 70 anos, a direção do TUP, liderada por Daniela Araújo Braga até às eleições anuais, em setembro, decidiu fazer um trabalho que pudesse “desconstruir formas mais normativas de trabalhar o teatro”.
Daí surgiu a construção conjunta com Ricardo Jacinto, na qual “não há um encenador e as diferentes áreas artísticas estão atribuídas não necessariamente a quem por norma as trabalha”, dando aos atores uma aprendizagem “até técnica” sobre captação de som, maneiras diferentes de “contribuir para um objeto artístico” e refletir sobre o próprio conceito de interpretação.
O espetáculo é coproduzido pelo TUP, a IRL e a Osso Coletivo, sob a direção artística de Ricardo Jacinto, e com duas cópias da Série D de “Square Tubes”, com o TUP a deixar “em aberto” uma possível continuação da colaboração.
Ricardo Jacinto licenciou-se em arquitetura, pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, e estudou escultura no Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual.
Desde 1998, tem apresentando o seu trabalho em exposições individuais e coletivas e em concertos e performances em Portugal e noutros países europeus, explorando a relação entre som e espaço.
As suas instalações estão representadas em coleções na Fundação de Serralves, Caixa Geral de Depósitos, Fundação Leal Rios e na Fundação António Cachola, e tem trabalhos editados pela Shhpuma Records, Clean Feed e Criativa Records.
A par do trabalho que desenvolve a solo, é, atualmente, membro de vários agrupamentos, como o quarteto de cordas Beat the Odds (dirigido por Pascal Niggenkemper, com Elisabeth Codoux e Felicie Bazelaire), o trio com Joana Gama e Luís Fernandes e o quarteto de Norberto Lobo, com Marco Franco e Yaw Teme.
É, também, investigador no Sonic Arts Research Centre, na Queens University, em Belfast, Irlanda do Norte.
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