"Um bebé em perigo espelha os medos de Sendak, numa das suas obras mais pessoais e surpreendentes, críticas, mas esperançosas", escreve a editora a propósito deste livro que Maurice Sendak publicou em 1993, quando já tinha 65 anos.
O livro inspira-se em histórias tradicionais, tem marcas de influência da banda desenhada e do universo artístico de William Blake - uma das referência de Sendak -, para contar a história de uma criança sem-abrigo que é raptada por ratazanas gigantes e à qual surgem em seu socorro dois rapazes, o João e o Rui.
"Disfarçado de livro ilustrado para crianças, este é um trabalho de uma complexidade extraordinária", escreveu o académico alemão Peter Neumeyer, em 1993, quando a obra foi publicada originalmente nos Estados Unidos.
São apontadas várias camadas de interpretação do livro, com referências ao Holocausto (os pais de Maurice Sendak eram judeus emigrados nos Estados Unidos), à homossexualidade do autor e a um contexto norte-americano na década 1990 que continua atual, abordando questões sobre solidariedade, sofrimento e abandono.
"Estamos todos na sarjeta com João e Rui", com tradução de Carla Maia de Almeida, é editado no âmbito de um trabalho editorial da Kalandraka dedicado a Maurice Sendak, que morreu em 2012, aos 83 anos, e de quem estava apenas publicado "Onde vivem os monstros", até há poucos anos.
A publicação regular em Portugal começou em 2014, para "recuperar o legado daquele que é considerado pelos críticos como um dos homens mais influentes dos Estados Unidos, por dar forma à fantasia de milhões de crianças", explicou na altura a Kalandraka.
Maurice Sendak, que recusava a ideia de escrever para crianças - escrevia e desenhava para leitores -, foi um dos autores que contribuiu para uma mudança na forma como se encara a literatura para os mais novos.
"Onde vivem os monstros", que viria a inspirar a ópera de Oliver Knussen, valeu-lhe em 1964 o prémio Caldecott Medal. Em 1970 recebeu o Prémio Hans Christian Andersen e, em 2003, o Prémio Astrid Lindgren Memorial Award.
Em Portugal estão já publicados, entre outros, "Na cozinha da noite", "O que está lá fora", "Chico chorão", que Maurice Sendak publicou um ano antes de morrer, "A janela de Kenny", "O recado de Rosie" e "Num molho de brócolos! ou A vida não pode ser só isto".
Entre todos os livros que escreveu, Maurice Sendak afirmou numa entrevista que a sua melhor obra era "Brundibar", a história de duas crianças que precisam de trabalhar para ganhar dinheiro e comprar leite para a mãe que está doente.
A título póstumo sairam "My Brother’s Book", um poema escrito e ilustrado por Sendak, inspirado na relação com o irmão Jack Sendak, e "Presto and Zesto in Limboland", com Arthur Yorinks.
Comentários