Por altura de uma nova edição do livro em Portugal, em entrevista à Agência Lusa, a autora alerta para as taxas de extinção “muito altas”, mais altas do que o normal e “provavelmente mais altas do que em qualquer outro momento desde a morte dos dinossauros, há 66 milhões de anos”.
O livro “A sexta extinção” baseia-se precisamente na ideia de que o planeta caminha para uma nova extinção em massa, como outras cinco que já aconteceram no passado, a primeira há 450 milhões de anos, no período Ordovícico Superior, a segunda no Devónico Superior, a terceira no final do período Pérmico, a quarta no Triásico Superior, há 200 milhões de anos, e a quinta no final do período Cretácico, quando um asteroide colidiu com a Terra.
Hoje “as pessoas já estão a sentir as mudanças, bem visíveis”, diz Elizabeth Kolbert, dando um exemplo: “Onde eu vivo, no nordeste dos Estados Unidos, os castanheiros eram muito comuns, hoje não há nenhum”.
O livro foi publicado pela primeira vez em Portugal em 2014 (e agora novamente lançado pela editora Elsinore) e desde então têm surgido estudos que concluem o mesmo: o planeta caminha para uma nova extinção.
Em 2018 um estudo publicado na revista científica “Proceedings of the National Academy of Sciencies” dizia que o planeta já está a viver a sexta extinção e que há uma aniquilação de espécies sem precedentes.
No ano anterior um estudo no mesmo sentido e em 2015 uma investigação de universidades norte-americanas também já dizia que começou uma extinção em massa.
Para o livro, para as mesmas conclusões, Kolbert viajou até à Islândia, Itália, Escócia, França ou Alemanha. Foram cinco anos de trabalho, disse à Lusa.
Foi ao Panamá para testemunhar a extinção das rãs douradas, outrora símbolo do país, à Austrália para descrever a morte dos corais, ao Peru para perceber o impacto do aquecimento nos trópicos e a deslocação das espécies, ao Brasil para entender a desflorestação, e voltou aos Estados Unidos para investigar a morte em massa de morcegos por causa de um fungo acidentalmente importados para os Estados Unidos.
De tudo conclui que as extinções têm em comum uma mudança. Que quando a velocidade a que o mundo muda é maior do que a velocidade de adaptação das espécies muitas acabam por desaparecer. E a extinção atual tem uma nova causa, uma espécie daninha, o Homem.
Na entrevista à Lusa a autora diz que certamente a “sexta extinção” não quererá dizer que toda a vida na Terra será destruída, e acrescenta que há muitas coisas que se podem fazer para reduzir as taxas de extinção, como terminar com a queima de combustíveis fósseis.
“As alterações climáticas provavelmente causarão muitas extinções”, disse, lembrando que o CO2 esta a levar à acidificação dos oceanos.
E a negação das alterações climáticas por dirigentes como o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não é prejudicial para o planeta? Kolbert responde: “Certamente que é prejudicial para o planeta e para todas as espécies que o habitam, incluindo a espécie humana”.
À pergunta da Lusa se é possível reverter a situação, a autora diz que a mudança do clima é difícil de reverter, “porque há muita inércia no sistema climático”, mas acrescenta que se o homem parasse de queimar combustíveis fósseis os riscos podiam ser reduzidos. “Neste momento estamos a maximizar esses riscos”, frisa.
Para já, as estimativas não são as melhores: um terço de todos os corais e recifes, um terço de todos os moluscos de água doce, um terço dos tubarões e raias, um quarto de todos os mamíferos, um quinto de todos os répteis, e um sexto de todas as aves podem estar a caminhar para o extermínio. Daqui a um século pandas, tigres ou rinocerontes poderão apenas existir em jardins zoológicos.
Elizabeth Kolbert, jornalista da revista New Yorker, tem escrito sobre o aquecimento global e os seus trabalhos receberam vários prémios, “A sexta extinção” o Pulitzer (prémio de jornalismo) para obra de não ficção. Personalidades como Yuval Arari, Bill Gates, Al Gore ou Barack Obama elogiaram a obra, um livro de divulgação científica e não um romance.
Quando Kolbert diz que ao “perturbar os sistemas biológicos e geoquímicos da Terra”, abatendo florestas, alterando a composição da atmosfera e acidificando os oceanos, o Homem está a colocar a sua própria sobrevivência em risco, não é de uma história de ficção que fala.
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