Susana Ferreira, conservadora do equipamento que agora está em processo de integração na Rede Portuguesa de Museus, defende que esses dois aspetos refletem parte da "grande diversidade de temas" patente na coleção reunida pelo empresário da segunda geração da família do Grupo Amorim.
"Os anos 30 e 40 coincidiram com uma fase em que a então Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais apostava no retorno à simplicidade medieval e, quando as igrejas começaram a ser desmanteladas para as paredes voltarem a ficar apenas em pedra, o Henrique Amorim comprou muita talha dourada, arte sacra e mobiliário litúrgico que, de outra forma, se teriam perdido para sempre", revela a responsável pelo museu.
A essa recolha se devem "autênticos tesouros" incluídos no acervo do museu, como uma Senhora do Ó atribuída ao século XIII ou XIV, um Santo Antão em Pedra de Ançã do século XV e um tríptico de iconografia "extremamente rara" que apresenta em simultâneo um calvário e uma cena da Anunciação.
Já a estatuária civil e as réplicas em cortiça de monumentos como a Torre de Belém, por sua vez, destinavam-se a disseminar conhecimento pela comunidade local: "Santa Maria de Lamas não tinha nada naquela altura, era um deserto, e o Henrique Amorim comprava ou mandava fazer essas peças para que as pessoas da terra ficassem a saber mais sobre o que existia noutros locais do país e do mundo".
Nesse empenho falhou muitas vezes, no entanto, a identificação da proveniência das peças, pelo que uma das maiores dificuldades colocadas ao trabalho de conservação no museu foi determinar a data e origem geográfica do seu acervo.
Mesmo assim, o edifício criado para acolher a coleção de Henrique Amorim começou a ser construído em 1950 e nos anos seguintes foi sendo ampliado para acolher novos conteúdos.
Imóvel e recheio foram doados à Casa do Povo de Santa Maria de Lamas em 1959, mas, com o falecimento do empresário em 1977, essa instituição viu-se sem fundos para gerir o museu, que entrou numa fase de "semi-adormecimento": manteve as portas abertas ao público, mas sem cuidados museológicos adequados, pelo que se tornou frequente os visitantes apreciarem nas peças expostas teias de aranha e camadas de pó.
Só em 2004 é que a Casa do Povo decidiu entregar a requalificação do espaço ao Departamento de Arte e Conservação e Restauro da Universidade Católica Portuguesa, pelo que em 2005 a coleção voltou a apresentar-se ao público em moldes dignos e renovados - embora reabrindo apenas um dos seus dois pisos.
Um ano depois foi criado o serviço educativo, apostado em proporcionar a todos os quadrantes de público um claro entendimento sobre o acervo do museu, e em 2008 ficaram visitáveis mais três salas das dez que constituem o piso inferior do edifício.
Para o futuro, a aposta é na melhoria da acessibilidade geral do imóvel e na captação de fundos que permitam requalificar as sete salas que se mantêm inacessíveis ao público.
"Primeiro, a nossa prioridade foi garantir a proteção das peças e substituir a cobertura do telhado e as caixilharias do edifício, para deixar de chover cá dentro", recorda Susana Ferreira.
"Agora, queremos sobretudo recuperar a Sala da Cortiça, reforçando a componente sobre a indústria corticeira em geral com um percurso que começará na rua dos Marinheiros, em Gaia, onde funcionou a primeira fábrica dos Amorins, e que depois continuará pelo concelho da Feira e pelo resto do país, abordando também a influência do Seixal e de Silves no setor", conclui.
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