O quadro é “La miséreuse accroupie” (A mulher agachada, em tradução livre), um óleo que Pablo Picasso (1881-1973) pintou no “período azul”, assim chamado devido à cor que predominava nas suas telas entre 1901 e 1904.
Os detalhes do quadro, que pertence à Galeria de Arte de Ontário, no Canadá, foram postos a nu por uma equipa internacional de cientistas, um curador e um conservador e serão apresentados hoje à imprensa em Austin, nos Estados Unidos, no encontro anual da American Association for the Advancement of Science (Associação Americana para o Avanço da Ciência).
No trabalho de análise da tela os peritos usaram técnicas não destrutivas baseadas em raios-X e infravermelhos, precisa em comunicado a universidade norte-americana de Northwestern, que participou no estudo.
As imagens obtidas permitiram-lhes concluir que Picasso fez alterações subtis na pintura antes de chegar à versão final.
Segundo os especialistas, o artista pintou inicialmente a figura da mulher com o braço direito visível e a mão a segurar um disco, mas acabou por cobri-los com um manto.
Para o curador-assistente de arte moderna da Galeria de Arte de Ontário, Kenneath Brummel, o braço invisível de “La miséreuse accroupie” tem os mesmos traços do braço direito da mulher agachada da aguarela “Femme assise” (Mulher sentada), também de 1902 e recentemente vendida em leilão.
A análise do quadro “La miséreuse accroupie”, realizada em tempo considerado recorde e na própria galeria com instrumentos portáteis, pôs a descoberto uma paisagem desenhada por um outro artista espanhol, cuja identidade é desconhecida. Picasso incorporou, por exemplo, os contornos de penhascos nas costas da mulher.
Perante as descobertas, os especialistas acham que estão aptos para “contar a história” do “desenvolvimento do estilo” de Picasso e “possíveis influências” na sua pintura, nas palavras da conservadora de quadros da Galeria de Arte de Ontário, Sandra Webster-Cook.
A divulgação de novos dados está prometida para 01 de junho, em Houston, no encontro anual do American Institute of Conservation (Instituto Americano para a Conservação).
Num outro trabalho sobre a obra de Picasso, mas desta feita sobre escultura e cujos resultados serão também apresentados hoje no encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, os peritos descobriram em que fundição de Paris, onde o artista espanhol viveu e trabalhou, foram feitas cinco esculturas em bronze sem assinatura, datadas de 1941 e 1942.
O estudo revelou que a composição das ligas metálicas usadas variava significativamente e que uma outra escultura feita em outro material, com o título “Cabeça de mulher”, que foi inspirada na segunda mulher de Picasso e datada de 1962, tem pormenores faciais em prata.
Para este trabalho, uma equipa de especialistas em estudos de arte, incluindo do Museu Picasso de Paris, utilizou igualmente técnicas de análise por meio de raios-X.
De acordo com um comunicado da Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos, que participou também na investigação, as cinco esculturas de bronze, para as quais Picasso construiu moldes em gesso na década de 30, foram fundidas na casa Robecchi, nome de um colaborador menos conhecido do artista.
A composição das ligas metálicas utilizadas por Émile Robecchi era diferente, fruto das circunstâncias da ocupação nazi de Paris na Segunda Guerra Mundial (1939-1945): os metais brutos escasseavam na altura, o regime alemão apropriava-se dos metais não-ferrosos e canalizava-os para a guerra e o latão de peças de uso comum era reutilizado com outros fins.
Os peritos concluíram que, para a escultura policromada em ferro fundido “Cabeça de mulher”, inspirada em Jacqueline Roque, Picasso usou prata para realçar detalhes faciais como cabelo e olhos.
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