De acordo com o gabinete do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, o compromisso entre o Estado e o Novo Banco, adquirido pelo fundo norte-americano Lone Star no ano passado, será para realizar parcerias com entidades públicas e privadas, como museus e universidades, de âmbito nacional e regional.
Entre essas iniciativas está a concretização de um programa de depósito descentralizado da coleção de pintura do Novo Banco, “colocando à fruição pública 97 obras de relevante valor artístico, em vários museus espalhados pelo território nacional”.
O primeiro protocolo deste programa será assinado hoje, no Museu Nacional dos Coches, com a Direção Geral do Património Cultural (DGPC), “e servirá de referência para esta estratégia de preservação” e disponibilização da coleção do Novo Banco.
No quadro deste protocolo, a pintura a óleo do século XVIII “Entrada Solene, em Lisboa, do Núncio Apostólico Monsenhor Giorgio Cornaro”, considerada a obra mais importante do núcleo de pintura do Novo Banco, ficará exposta em permanência no Museu Nacional dos Coches, através de um contrato de depósito.
A obra representa um raro registo iconográfico que dá a conhecer um cortejo seiscentista que inclui coches e liteiras, semelhantes aos que estão expostos no museu.
Ainda segundo o gabinete do ministro da Cultura, o Novo Banco criará a marca “NB Cultura”, reunindo sob um único conceito toda a coleção, “com o objetivo de preservar e divulgar o seu vasto património”, nomeadamente a Coleção de Pintura portuguesa e europeia de várias épocas, e a Coleção de Fotografia Contemporânea, que tem figurado “entre as melhores coleções empresariais do mundo”.
Também detém a Biblioteca de Estudos Humanísticos, a chamada Biblioteca de Estudos Humanísticos de Pina Martins, já exposta na Fundação Calouste Gulbenkian, e que se encontra depositada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, de modo a permitir o seu estudo e consulta.
Esta biblioteca compreende mais de mil livros antigos, a maioria do século XVI, além de nove incunábulos, dos primeiros tempos da imprensa, assim como perto de uma centena de obras com origem no humanista Aldo Manuzio.
A primeira edição das “Obras Completas de Sá de Miranda”, de 1585, uma edição de “Os Lusíadas”, de 1613, e edições iniciais de autores como Dante Alighieri, Francesco Petrarca, Erasmo de Roterdão e Thomas More, Damião de Góis, Luís António de Verney e Bernardim Ribeiro encontram-se neste acervo, comprado pelo antigo BES, em 2008, à família do professor e investigador José de Pina Martins (1920-2010).
Em abril de 2017, a Biblioteca Nacional de Portugal abriu um processo de classificação deste acervo.
Do património do Novo Banco também faz parte a Coleção de Numismática, que se encontra na sede da instituição, em Lisboa, e sobre a qual foi igualmente aberto um processo de classificação como Tesouro Nacional, pela DGPC, em 2015.
Esta coleção compreende 16.575 exemplares, acompanha a emissão de moeda ao longo de 2.000 anos, desde a Antiguidade, antes da fundação da nacionalidade, assim como de toda a História de Portugal, incluíndo emissões de antigas colónias, como Brasil, Índia, Moçambique e Angola.
Reunida pelo empresário e colecionador Carlos Marques da Costa, que morreu em 2011, a coleção de numismática inclui raridades, como “o Português”, entre as moedas de ouro mais pesadas, cunhada por um país europeu.
Na Coleção de Pintura encontram-se, entre outras, obras dos séculos XVI e XVII, como “Os Financeiros”, de meados do século XVI atribuída a Quentin Metsys, “A Torre de Babel”, de meados do século XVII, da Escola Flamenga, e a “Entrada em Lisboa do Núncio Apostólico Georgio Cornaro”, de finais do século XVII.
Na pintura estrangeira de finais do século XVIII, destacam-se as paisagens de Jean Baptiste Pillement, nomeadamente uma representação de um dos momentos que seguiram o naufrágio do navio de guerra San Pedro de Alcântara, nas falésias da Papoa, em Peniche.
Entre as obras dos séculos XIX e XX da coleção do Novo Banco, que se estende até à atualidade, existe um núcleo de pintura portuguesa, com peças de mais de trinta autores, entre os quais António Silva Porto, José Malhoa, Artur Loureiro, Júlio Sousa Pinto, Eduardo Malta, Júlio Pomar, Júlio Resende, Eduardo Viana, Maria Helena Vieira da Silva, Manuel d’Assumpção, Carlos Botelho, Manuel Cargaleiro, Mário Dionísio, Nikias Skapinakis, Ângelo de Sousa, Jorge Pinheiro, Graça Morais, Pedro Croft.
O núcleo conta ainda com um conjunto de quatro Portulanos, mapas antigos dos portos conhecidos.
A Coleção de Fotografia inclui obras de artistas como Jeff Wall, Cindy Sherman, Wolfgang Tillmans, Robert Frank, Christian Boltanski, John Baldessari, Thomas Struth, Candida Höfe, Willie Doherty, Irving Penn, Stan Douglas, Vik Muniz, Nan Goldin, Helena Almeida, Vasco Araújo, Daniel Blaufuks, Filipa César, Adriana Molder, Jorge Molder, Paulo Nozolino, Pedro Paiva e João Maria Gusmão, João Tabarra e Gérard Castello-Lopes, entre mais de mil obras de cerca de três centenas de artistas, de diferentes gerações e nacionalidades.
A oficialização do Projeto de Divulgação Cultural do Novo Banco vai decorrer numa cerimónia, hoje, no Museu Nacional dos Coches, às 17:00, com a presença do ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, e da diretora-geral do Património Cultura, Paula Silva.
Da parte do Novo Banco, estarão presentes António Ramalho, presidente do Conselho de Administração, Byron Haynes, presidente do Conselho Geral de Supervisão, e Robert Sherman, embaixador da marca ‘NB Cultura’.
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