“Tínhamos este edifício em estado de degradação, com o decorrer dos anos, da humidade, e queríamos dar uma finalidade. E surgiu a ideia de que fosse criado um centro interpretativo. Arrancámos com uma candidatura, tivemos sorte e foi contemplada”, explica à agência Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Fiscal, terra onde António Joaquim Rodrigues Ribeiro, nome de batismo, nasceu em 03 de dezembro de 1944 e foi sepultado em 1984.
Augusto Macedo conta que na escola onde Variações fez todo o ensino primário, propriedade da junta que preside, vai ser recriada uma barbearia, em alusão à profissão (barbeiro) que o cantor abraçou após rumar a Lisboa, sublinhando que o espaço de tributo ao “filho da terra” vai ter também fotografias e roupas, estas cedidas por uma das irmãs.
“Além da recriação da barbearia, teremos expostas fotografias e alguns trajes dele. Pensamos também passar o filme que foi feito dele, ter sempre músicas a decorrer e haver um espaço onde poderá haver formação musical. Temos parceria com duas escolas de música do concelho e a ideia é que elas possam ministrar o ensino da música. Que este espaço não seja só expositivo, mas também de ensino”, acrescenta a secretária da junta e uma das impulsionadoras do projeto.
Liliana Brandão explica que a ideia é que uma das escolas de música esteja “mais na parte formativa”, enquanto a outra promova a animação musical, “fazendo miniconcertos, muito familiares”, de tributo ao ‘ícone’ musical, que deixou dois álbuns — “Anjo da Guarda” (1983) e “Dar & Receber” (1984) — que marcaram indelevelmente a história da música em Portugal.
“Quem sabe, alguns dos cantores que estão neste momento a usar música do Variações na sua interpretação, possam replicar cá… Era algo que idealizávamos e seria uma felicidade para nós tê-los cá a replicar”, desafia a autarca.
Liliana Brandão diz que a empreitada, de cerca de 160 mil euros – 128 mil euros virão da candidatura recentemente aprovada no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural | Renovação de Aldeias -, “tem de arrancar o mais rápido possível”, pois tem de estar concluída “num prazo máximo de dois anos, ou até mais cedo”.
A família de António Variações, na voz de um dos irmãos, Carolino Ribeiro, mostra-se agradada com a iniciativa da junta de Fiscal.
“Aceitamos bem e achamos que é um contributo merecido para a freguesia, para o concelho e, principalmente, para o António, que realmente merece todas as homenagens que são feitas em nome dele, e ficamos muito agradados com isso”, declarou à Lusa Carolino Ribeiro.
O carpinteiro de profissão, hoje com 64 anos, dá conta de que a família e os fãs também vão contribuir para enriquecer o futuro espaço de homenagem e de tributo ao irmão, que morreu a 13 de junho de 1984, em Lisboa, cidade para onde foi em 1957, com 13 anos.
“Temos alguma coisa em nossa posse, de vários irmãos, e vamos reunir todas as peças com mais interesse — acho que são todas — para pôr aqui no museu que vai ser feito em nome do António. Vamos ter de participar. E há fãs que querem, ou fazer doação de objetos, e outros, a título de empréstimo, provisoriamente, para ter aí e para as pessoas verem o que o António tinha”, revela Carolino Ribeiro.
Junto ao busto de António Variações, que também tem na freguesia uma avenida com o seu nome, Carolino Ribeiro destaca a originalidade como a principal característica do irmão.
“Mas originalidade em termos de música e de apresentação. E teimoso também. Mas era uma joia de pessoa, muito amigo da família, principalmente da mãe, do pai também – mas o pai tinha falecido há muitos anos -, e dos irmãos, que ajudou muito. Chamava-os à atenção de várias coisas do que era a vida. Ele já sabia muito o que era a vida e avisava-nos muito. Por incrível que pareça, apesar da sua excentricidade, ele era muito reservado. Dificilmente falava com alguém cá da terra. Era só mesmo dedicado à família”, partilha Carolino Ribeiro.
Carolino Ribeiro conta que a mãe “teve 12 filhos, criou 10, com muitas dificuldades, mas levou a água ao seu moinho”, uma vez que nunca os deixou passar fome e deu-lhes educação, acrescentando que os irmãos mais velhos, incluindo “o irmão António”, saíram de casa com “12 ou 13 anos, pois a necessidade era muita”.
Quanto às memórias que guarda do irmão, Carolino Ribeiro conta que ele vinha à terra sobretudo no Verão, no Natal e na Páscoa.
“Ele fazia questão de vir na Páscoa e no Natal, principalmente. Punha-nos aí a todos a trabalhar no quintal, a ajudar os pais, e a cantarolar, sempre, no monte ao pé da casa. E era uma festa com ele, sempre. Quando estava mal disposto, era um bocado complicado, porque tinha a maneira dele. Mas foi sempre um bom irmão, muito carinhoso connosco”, afirma Carolino Ribeiro.
O carpinteiro de profissão sublinha que o irmão “nunca renegou as suas origens” e que “gostava muito da festa da Páscoa”.
“Temos aqui uma tradição da visita pascal, muito bonita, muito interessante, que é a travessia de barco. Ele também a fez, quando fomos mordomos a seguir ao falecimento do meu pai, em 1976. Ele ficou encantado com a visita, nunca tinha feito. Ele é que preparava a mesa da Páscoa, punha as flores, era muito cuidadoso e gostava muito da terra”, salienta Carolino Ribeiro. “Gostava muito de Fiscal, porque era a terra dele – nasceu em Fiscal -, e do concelho.”
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