Um excerto de “O Palácio” (“Le Palace”), romance da autoria do falecido escritor francês Claude Simon, Prémio Nobel da Literatura em 1985, não foi aceite por 19 editoras, depois de um fã do autor, Serge Volle, de 70 anos, ter enviado 50 páginas da obra originalmente publicada em 1962 com o pressuposto de que seria "material novo".
Neste "teste cego" estava implícita a pergunta: seria hoje publicado um livro se ninguém conhecesse o seu autor?
Seis meses depois, Volle conta à rádio publica francesa que recebeu 12 respostas negativas e ficou sem resposta das restantes sete. Resumindo, nenhum editor viu potencial no romance de Simon, cuja ação decorre durante a Guerra Civil Espanhola.
Numa das cartas de recusa, partilha a AFP, um dos editores afirmou que as "frases intermináveis" do livro não prenderiam os leitores. Mais, acusa a obra de não ter "uma trama real com personagens bem delineados".
A avaliação é bem diferente daquela feita pela Academia Sueca há 32 anos, quando conferiu o Nobel da Literatura ao escritor Francês. Para os responsáveis pelo prémio, Claude Simon, tido como um dos fundadores do movimento literário "Noveau Roman” (“Novo Romance”), combinava nos seus romances "a criatividade do poeta e do pintor com uma profunda consciência do tempo na descrição da condição humana".
Para Volle, as recusas mostram que os editores contemporâneos "abandonam trabalhos literários que não são fáceis de ler ou que não possam vir a ter sucesso comercial".
O fã francês parafraseia ainda Marcel Proust, romancista e crítico francês, para dizer que "é preciso ser famoso para ser publicado. Vivemos na época dos livros descartáveis”.
"O Palácio" é uma das obras mais controversas de Simon, visto por muitos críticos como um ataque ao escritor britânico George Orwell, que como Simon tinha lutado no lado republicano da Guerra Civil Espanhola na década de 1930.
O autor, que faleceu em 2005, aos 91 anos, era ainda conhecido por ter uma prosa complexa, com frases que se estendem por páginas, como em "As Geórgicas", de 1981.
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