“Quando chegámos à parte final das filmagens, na noite anterior eu tinha o estômago às voltas, o meu coração a bater muito rápido e uma sensação enorme de que algo terrível ia acontecer”, disse a atriz Dominique Fishback, que interpreta Deborah Johnson no filme, durante um evento da Cinemateca Americana, em Los Angeles.

O filme conta a história verdadeira do ativista e revolucionário afro-americano Fred Hampton, líder do Partido dos Panteras Negras, que foi morto a tiro pela polícia em 04 de dezembro de 1969, em Chicago, quando dormia com a namorada grávida, Deborah Johnson.

“Quando cheguei à réplica do apartamento, a energia era muito pesada”, afirmou Dominique Fishback, recordando a dificuldade de filmar a cena da invasão policial em que Hampton, o “messias negro”, foi morto.

“Chegámos a dizer ao Shaka que se calhar devia contratar um psicólogo”, contou, referindo-se ao realizador e co-argumentista Shaka King.

Fred Hampton, que tinha apenas 21 anos quando foi assassinado, é interpretado neste filme por Daniel Kaluuya. O papel deu-lhe o Globo de Ouro de Melhor Ator Secundário nos prémios da Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood.

“Foi muito difícil tomar decisões e ser tão afiado como queria, porque estava a sentir estas emoções pessoais”, disse Daniel Kaluuya. “Senti que foi o dia mais pesado, por causa de tudo o que estava a acontecer”.

A cena do assassínio foi filmada no dia em que se assinalaram 50 anos desde a morte de Fred Hampton, o que tornou o momento ainda mais carregado de simbolismo, pela importância que o movimento do Partido dos Panteras Negras teve para muitos afro-americanos.

“O LaKeith desfez-se naquele dia”, afirmou o realizador Shaka King, descrevendo a violenta reação física que o ator LaKeith Stanfield (“Get Out”) teve ao interpretar William O’Neal, o informador que revelou ao FBI a localização de Fred Hampton.

“Dava para ouvir o coração dele a explodir nos nossos auscultadores, a bater de forma insanamente rápida”, revelou Shaka King. “Nunca tinha visto nada assim”, continuou o realizador, contando que o ator tinha passado a manhã a vomitar.

“Esse dia não foi piada nenhuma”, reforçou Daniel Kaluuya.

Considerado potencial candidato ao Óscar de Melhor Filme na próxima edição dos prémios da Academia, que ainda não revelou a lista de nomeados, “Judas and The Black Messiah” está a ser bem recebido pela crítica e estreou ao mesmo tempo nas salas de cinema e no serviço de ‘streaming’ HBO Max.

O filme foi produzido por Charles D. King e Ryan Coogler (“Black Panther”), e aborda os acontecimentos que levaram à morte de Hampton e vários outros líderes do Partido dos Panteras Negras, bem como a campanha de desinformação e dissidência concebida pelo FBI para conter o movimento.

“Estava entusiasmado por trazer à luz as ideias a que o ‘chairman’ [líder] Fred aspirou”, disse Shaka King, explicando que quis fazer um filme holístico, entrecruzando várias narrativas sobre amor, política, sofrimento e traição, sobrepostas nos discursos revolucionários de Hampton.

Os criadores tiveram contacto com a então namorada de Fred Hampton, Deborah Johnson (interpretada por Dominique Fishback), com o filho do ativista, Fred Hampton Jr., e com a viúva de William O’Neal, que viu o seu papel como infiltrado do FBI ser revelado em 1973.

Se “Judas and the Black Messiah” receber uma nomeação para Melhor Filme nos Óscares da Academia, será o primeiro título de um trio de afro-americanos (Shaka King, Ryan Coogler e Charles D. King) a consegui-lo.