Do plano editorial da Antígona até junho, fazem ainda parte a publicação de “A praga escarlate”, de Jack London, obra publicada pela última vez em 1967, e “Comboios Rigorosamente Vigiados”, de Bohumil Hrabal, com tradução direta do checo.
“A praga escarlate”, editada este mês, tem como pano de fundo uma pandemia terrível e incontrolável, um tema que tem sido recuperado pelas editoras em obras antigas que o trataram, face à pandemia que o mundo atualmente atravessa.
A história passa-se em 2013, quando uma pandemia varre o planeta e faz ruir a civilização, mas é relatada sessenta anos mais tarde, em 2073, por um sobrevivente, James Smith, que conta aos netos as suas lembranças de um mundo já distante.
Nesta obra de Jack London, publicada originalmente em 1912, a pandemia conduz ao colapso dos Estados modernos e o mundo retrocede à barbárie: o medo reina, as pessoas isolam-se, hordas saqueiam lojas, e muitos fogem em massa das cidades.
“Um texto profético sobre a vulnerabilidade da nossa civilização, publicado em 1912, e que ecoa sonoramente no presente”, destaca a editora, que tem vindo a publicar toda a obra do escritor norte-americano, que morreu em 1916.
Do mesmo autor, a Antígona publicou anteriormente “O tacão de ferro”, outro romance visto como “profético”, neste caso, da ascensão do fascismo, que trata da subida ao poder de uma ditadura oligárquica.
Em abril, deverá sair um livro de contos da multipremiada escritora, contista e poeta argentina Silvina Ocampo, mulher do também escritor Adolfo Bioy Casares, nunca antes publicada em Portugal, à exceção do romance “Quem ama, odeia”, que foi escrito em coautoria com o marido.
“A fúria e outros contos”, com prólogo de Jorge Luis Borges, é considerado “um dos tesouros mais bem guardados da literatura latino-americana do século XX” e o seu livro mais “ocampiano”, segundo a editora.
Entre os 34 contos que compõem esta antologia, encontram-se “A Casa de Açúcar”, o preferido de Julio Cortázar, “A Paciente e o Médico” e “As Fotografias”.
Referindo-se a Silvina Ocampo, Italo Calvino disse não conhecer “outro escritor que capture melhor a magia dos rituais quotidianos, o rosto proibido ou oculto que os nossos espelhos não nos mostram”.
O mês de maio chega com três novidades: “Comboios Rigorosamente Vigiados”, de Bohumil Hrabal, o segundo que a editora publica do autor checo; “Dos Nossos Irmãos Feridos”, estreia do autor francês Joseph Andras em Portugal; e “Ferro em Brasa”, de Filipe Homem Fonseca e Miguel Martins.
Depois de “Uma Solidão Demasiado Ruidosa”, a Antígona prossegue a publicação das obras de Bohumil Hrabal, em tradução direta do checo, agora com um clássico da literatura do pós-guerra, datado de 1965, considerado “uma pequena obra-prima de humor, humanidade e heroísmo”.
Adaptada ao cinema por Jiri Menzel em 1968 (vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro), a história acompanha Milos Hrma, jovem aprendiz numa estação ferroviária na Checoslováquia ocupada pelos nazis.
“Comboios Rigorosamente Vigiados” teve uma edição anterior, em Portugal, em 1990, há muito esgotada.
“Dos Nossos Irmãos Feridos” é o romance de estreia de Joseph Andras, que causou sensação em França, “um livro de tirar o fôlego” sobre o caso verídico de Fernand Iveton, um ‘pied-noir’ (termo referente a cidadãos franceses que viveram no norte de África sob governação francesa), executado durante a Guerra da Argélia, em novembro de 1956.
A execução representou um castigo que se pretendia exemplar e um aviso a todos os que tomassem o partido dos colonizados e do anticolonialismo.
Esta obra constitui, assim, uma reflexão sobre um símbolo da resistência à opressão colonial e às injustiças dos conflitos, num estilo inesquecível, destaca a editora.
“Dos Nossos Irmãos Feridos” venceu o Prémio Goncourt 2016 para primeiro romance, mas o autor rejeitou o galardão, porque, segundo o próprio, a sua “conceção de literatura não é compatível com a ideia de competição, e a concorrência e a rivalidade são alheias à escrita e à criação”, e também porque sempre preferiu o anonimato, escudando-se num pseudónimo.
“Pão Seco”, do marroquino Muhammad Chukri (1935-2003), com tradução do árabe e posfácio de Hugo Maia, chega em junho, um romance que o dramaturgo norte-americano Tennessee Williams descreveu como “um verdadeiro documento do desespero humano, com um impacto avassalador”.
Originalmente publicado em 1973, o romance autobiográfico “Pão seco”, considerado uma “obra de culto”, foi proibido até recentemente nos países árabes, por tocar em tabus da sociedade magrebina.
Nesta novela autobiográfica que consagrou o autor, Muhammad Chukri recorda os tempos em que a fome grassou no Rife e a sua família partiu para Tânger em buscar de uma vida melhor.
Nas noites passadas ao relento, nos becos da cidade, o pequeno Muhammad, orgulhoso e insolente, descobre a injustiça e a compaixão, o consolo das drogas, do sexo e do álcool.
É já na prisão que um dos seus companheiros de cativeiro lhe ensina os rudimentos da leitura, que mudarão para sempre a sua vida: Muhammad Chukri aprendeu a ler e a escrever aos 21 anos. Até morrer, publicou dez romances.
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