Nunca confies naquilo que vês
Parece ser tão possível e, em simultâneo, é tão macabro, que queremos que seja mesmo só ficção. É com esta frase de síntese que te apresento uma das séries que me tem dado a volta à cabeça nos últimos dias. Chama-se “Devs”, é uma minissérie produzida pela FX para a Hulu, e os 8 episódios estão atualmente disponíveis na HBO.
Passado num ambiente não muito longe dos dias que correm, a história apresenta-nos no primeiro episódio o casal de namorados Lily e Sergei, que são colegas de trabalho na empresa Amaya. Ela é engenheira e ele acaba de ganhar o seu posto de trabalho na empresa de computação quântica. Depois do primeiro dia, Sergei desaparece misteriosamente e, preocupada com o namorado, Lily procura respostas. As câmaras de vigilância mostram que o recém chegado se suicidou depois do horário de expediente, mas a rapariga desconfia que não foi bem assim.
Com várias questões a surgir, agora tudo e todos à sua volta parecem suspeitos. Do jogo de Sudoku instalado no telemóvel do namorado (que não era fã do quebra-cabeças) às atividades desconhecidas que mantinha em paralelo e que envolviam a entrega de informações secretas ao governo russo, há várias pontas soltas que parecem não coincidir com a história que lhe é contada. Ao mesmo tempo que tenta desvendar o mistério, ficamos a conhecer um pouco mais sobre a Amaya e sobre o responsável da empresa, Forest, o que leva o espectador a achar que, cada vez mais, a resposta está naquele primeiro dia de trabalho.
A empresa desenvolveu um projeto através do qual consegue fazer projeções de vários eventos, quer do passado e do futuro, quer de situações hipotéticas, com desfechos alternativos aos que aconteceram. O primeiro encontro de Lily e Sergei, a filha falecida de Forest e a morte da protagonista são alguns dos eventos que consegue projetar. Mas isto é mais do que “ir à bruxa”. A série e a tecnologia que nos apresenta metem em perspetiva variáveis como o livre arbítrio e o determinismo e fazem-nos questionar até que ponto é que, no mundo em que vivemos, à semelhança do da série, os nossos passos não estão já premeditados.
- Olha quem são eles: A personagem Forest é interpretada por Nick Offerman, uma cara conhecida pelo papel de Ron Swanson em “Parks and Recreation” e Lily é interpretada por aquela que é considerada por muitos como a musa do escritor da série, Sonoya Mizuno, que já tinha colaborado com ele noutras obras.
- Ainda pelas mãos de Alex Garland: O escritor e realizador de “Devs” é um especialista neste género. Para além desta série, já nos deu filmes como “Ex Machina”, “Annihilation” e “28 Days Later”.
No fundo, estamos todos a improvisar
Por muito que as séries e filmes de sci-fi sejam muitas vezes dominados pelo drama e a ação, muitas vezes neste género que nos dá cenários apocalípticos, rir é o melhor remédio. Por isso, e para brincar com o conceito de fim do mundo, o podcast “Civilized” conta-nos ao ouvido a história da tripulação de uma nave espacial que vai parar a um planeta alienígena. A partir daí, acompanhamos as várias personagens, que vão dar o seu melhor para sobreviver e para explorar o mundo novo que os rodeia, uma missão que nem sempre se revela bem sucedida.
Apresenta-se como um podcast de humor negro com base em ficção improvisada e, apesar de eu não achar que seja um humor particularmente agressivo, fica o aviso para os mais sensíveis. O primeiro episódio estreou em junho de 2019 e, até à data, já conta com três temporadas. Os episódios não te roubam muito tempo, os mais curtos têm cerca de 10 minutos, e os maiores pouco mais de 25 minutos. Esta comédia auditiva vai-te fazer lembrar as séries de animação, ao mesmo tempo que te vai roubar umas gargalhadas. Ora espreita aqui o trailer.
- Um podcast improvisado?: Sim, exato, ouviste bem. Também fiquei intrigada pela ideia de um podcast de ficção ser feito sem haver qualquer guião, mas depois de uma curta pesquisa, percebi que a única coisa que estava pré-estabelecida era o tema-base do episódio. Depois, os responsáveis pelas várias personagens vão para estúdio, ouvem a premissa introdutória e improvisam o resto do enredo.
- Para os que não dominam o áudio em inglês: O podcast disponibiliza transcrições de todos os episódios, para poderes ler ao mesmo tempo que ouves.
- Mas há mais: Para além dos episódios do podcast, os criadores disponibilizaram também um jogo interativo onde tu és um alien. Inscreve-te através do email e todos os dias vais receber uma nova mensagem com um ficheiro de áudio que te conta a história até ao ponto em que tens de tomar uma decisão. A tua escolha vai determinar o enredo da próxima mensagem, até chegares ao final.
Uma viagem de 363 anos no tempo
Penso que é consensual que a tecnologia vai dominar o nosso futuro. Mas antes de chegar a altura em que somos todos transformados em robots e habitamos num planeta desconhecido, há várias fases pelas quais o mundo pode passar. E se te dissessem que, no futuro, a tua existência ia ser reduzida a um chip? Calma, ias continuar a poder ter uma forma física, mas a tua consciência podia ser mudada de corpo em corpo, como se apenas de uma capa se tratasse, através de um dispositivo pouco maior do que um cartão de memória. Parece assustador, não?
Ora, é para esta realidade que nos transporta “Carbono Alterado”, mais especificamente, para Bay City no ano de 2384. Takeshi Kovacs é o último soldado sobrevivente de um grupo rebelde que foi erradicado por ir contra a nova ordem mundial e, depois de ser apanhado e morto no seu quarto de hotel, “nasce” num novo corpo, com direito a uma espécie de placenta e cordão umbilical artificial.
Lembras-te dos chips de que te falei mais acima? Ora, ainda que o conceito pareça ser a solução para a vida eterna, já que sempre que o teu corpo físico morre, o teu chip pode só ser passado para um novo, a verdade é que, na prática, não funciona assim. Se o chip for destruído e a pessoa não tiver um backup, não há volta a dar. Tanto palavreado eletrónico serve para a série nos explicar que, naquela sociedade utópica onde ninguém tem nada a perder e todos parecem imortais, apenas os mais poderosos realmente o são.
Laurens Bancroft é um dos homens ricos de Bay City e vai dar a Takeshi uma nova missão: a de descobrir a verdade sobre a sua própria morte. A tarefa não é fácil e, ainda que inicialmente reticente, Tak acaba por aceitar, sendo que as únicas pistas que o rebelde tem para seguir são o último backup da sua consciência, feito instantes antes de morrer. Parece confuso? Por vezes é. Esta é uma daquelas séries que exige a tua máxima atenção. Por isso deixa o scroll nas redes sociais para depois, dá play e entra nesta história de ação.
- Inspirada num romance: A primeira temporada de “Carbono Alterado” é baseada num livro de Richard K. Morgan, ainda que tenham sido alterados alguns detalhes nas personagens e na organização do enredo.
- Tudo o que é bom acaba: Depois de duas temporadas, em agosto de 2020, a Netflix anunciou que as outras duas que estavam agendadas para o futuro iriam ser canceladas. Por isso, resta-te ver os 18 episódios disponíveis na plataforma de streaming.
Créditos Finais
- O Bicho ainda mexe: Se no primeiro confinamento nos rendemos às noites acompanhadas por Bruno Nogueira e os seus convidados nos diretos de Instagram, a série “Como É Que O Bicho Mexe” está de volta para uma espécie de segunda temporada. A razão não é a melhor, mas nas próximas noites, a partir das 22h, no Instagram do Bruno Nogueira (@corpodormente) a companhia é garantida.
- Há boas e más notícias: Se, por um lado, todos os fãs de “Peaky Blinders” ficaram tristes depois de ter sido confirmado que a sexta temporada da série, que já começou a ser gravada, será a última, um raio de sol apareceu quando o criador Steven Knight confirmou que vai haver um filme baseado no universo de gangsters, que vai colocar um ponto final ao enredo. Entusiasmado?
- A nostalgia da geração Z: Esta é uma semana especial para aqueles que, como eu, cresceram a sonhar em encontrar o seu Troy ou a sua Gabriella, tinham as paredes do quarto cheias de posters temáticos da revista Bravo e que ficaram de coração partido quando Zac Efron e Vanessa Hudgens se separaram na vida real. O primeiro “High School Musical” celebra 15 anos. Consegues acreditar que já passou tanto tempo desde que ouvimos “Breaking Free” e “We're All In This Together” pela primeira vez?
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