![O que saiu do AI Action Summit? Paris viu a Europa acordar para a corrida da IA](/assets/img/blank.png)
Durante esta segunda e terça-feira, Paris foi palco de mais uma edição do Artificial Intelligence Action Summit, evento que juntou decisores políticos e executivos de topo para discutir o futuro da inteligência artificial (IA). Organizado pelo Presidente francês Emmanuel Macron e pelo primeiro-ministro indiano Narendra Modi, o encontro contou com nomes como Sam Altman (OpenAI), Dario Amodei (Anthropic) e Demis Hassabis (DeepMind).
Diferente das cimeiras anteriores, que se focaram nos riscos da IA, a capital francesa trouxe à mesa o potencial da tecnologia, novas abordagens regulatórias e o impacto geopolítico do setor. Estes foram os cinco principais destaques do evento.
A Europa repensa a regulamentação da IA
A União Europeia, pioneira na criação do AI Act – conjunto de leis que visa controlar o uso da IA – está a reconsiderar o impacto dessas regulamentações. O próprio Emmanuel Macron demonstrou preocupação com a possibilidade de a Europa perder competitividade face a mercados com regulação mais permissiva, como os Estados Unidos e a Índia.
Durante o evento, Macron anunciou que a França receberá 109 mil milhões de euros em investimentos privados na área de IA nos próximos anos. Defendeu ainda que a regulamentação não deve ser “punitiva”, salientando a necessidade de leis que não bloqueiem a inovação. Apesar disso, reforçou a importância de manter regras que garantam um desenvolvimento ético e seguro da tecnologia.
Neste contexto, Macron destacou a Mistral AI, uma startup francesa de IA, como exemplo de inovação que deve ser incentivada. A Mistral espera posicionar-se como uma alternativa credível à OpenAI ou à Anthropic. Além de desenvolver modelos de base, o seu chatbot Le Chat, lançado há dias para Android e iOS, compete diretamente com o ChatGPT, Claude, Google Gemini e Microsoft Copilot. O chefe de Estado francês é um conhecido entusiasta da empresa e defende que regulamentações excessivas podem comprometer a competitividade de França no setor.
O impacto da DeepSeek e a inspiração para as startups
A startup chinesa DeepSeek foi tema de destaque na cimeira, com o seu chatbot DeepSeek R1 a gerar discussões pelo seu desempenho semelhante ao ChatGPT, mas com custos significativamente inferiores. Este feito despertou a atenção global, não apenas pela eficácia técnica, mas pelo impacto no ecossistema de IA.
Ou seja, as empresas europeias viram na DeepSeek um exemplo de que é possível competir com as grandes tecnológicas americanas sem investimentos astronómicos. Citado pelo The New York Times, Clément Delangue, CEO da Hugging Face, destacou que o sucesso da DeepSeek “mostrou que todos os países podem fazer parte da corrida da IA”.
Uma visão mais otimista sobre a IA
Ao contrário das cimeiras anteriores no Reino Unido e na Coreia do Sul, que destacaram os riscos da IA, Paris optou por uma abordagem mais positiva. O evento focou-se no potencial da IA para acelerar avanços em áreas como medicina e ciência climática.
Esta mudança de foco foi uma escolha deliberada de Macron, que pretende influenciar os decisores políticos a adotarem a tecnologia. Escreve o jornal norte-americano que esta abordagem reflete uma mudança na indústria, que agora procura destacar os benefícios da IA para facilitar a sua adoção por parte dos governos.
A posição dos EUA: sem regulamentação à vista
O vice-Presidente dos Estados Unidos, JD Vance, esclareceu a postura americana quanto à IA: não haverá regulamentação federal no curto prazo. Destacou também que “os Estados Unidos são líderes em IA e a nossa administração planeia manter essa liderança”, reforçando que a tecnologia deve permanecer livre de influências ideológicas e censura.
JD Vance considerou ainda que a Europa será forçada a escolher entre utilizar tecnologia concebida e fabricada nos Estados Unidos ou a alinhar-se com concorrentes autoritários, numa referência à China.
Segundo o Politico, a administração Trump tem apostado numa abordagem menos intervencionista, priorizando a inovação e o crescimento das empresas americanas no setor. Esta estratégia contrasta com a postura europeia e pode aumentar a pressão sobre o bloco para rever suas regulações.
O debate sobre a chegada iminente da IA Geral
Apesar do foco positivo na IA, uma questão pairou no ar: a proximidade da Inteligência Artificial Geral (AGI), capaz de igualar ou superar capacidades humanas em várias áreas. Demis Hassabis, CEO da DeepMind, previu que a AGI pode chegar em cinco anos, enquanto outros, como Dario Amodei (Anthropic) e Sam Altman (OpenAI), sugerem um horizonte ainda mais curto.
Escreve o The New York Times, que a urgência dessas previsões não foi acompanhada pelo mesmo nível de preocupação por parte dos decisores políticos. As discussões mantiveram-se focadas em conceitos mais abstratos, como “inovação colaborativa” e “governação multilateral”, sem abordar diretamente os potenciais impactos disruptivos da AGI.
O AI Action Summit em Paris deixou claro que o debate sobre IA está longe de ser consensual. Entre a pressão por regulamentação, a corrida por inovação e as tensões geopolíticas, as discussões sobre o futuro da IA estão longe de terminar, com muitas questões ainda por resolver.
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