Bill Gates deu o leme da Microsoft a Steven Ballmer.
Jeff Bezos entregou a liderança da Amazon a Andy Jassy.
Larry Page e Sergei Brin passaram a pasta da Alphabet a Sundar Pichai.
Agora é a vez de Reed Hastings sair de cena e dar a vez a outro.
O ex-professor de Matemática já teve um impacto suficientemente grande na nossa vida para estar na mesma categoria que os nomes anteriores. A Netflix é a principal plataforma de streaming no mundo inteiro, conta atualmente com 231 milhões de subscritores e mudou para sempre a forma como consumimos filmes e séries.
Segundo reza a lenda, Hastings teve a ideia de criar a Netflix em 1997 depois de acumular uma dívida grande na Blockbuster (empresa que dominava o mercado do aluguer de DVDs) e pensar que todo o processo seria mais fácil se funcionasse como uma subscrição de ginásio com uma prestação mensal.
Daí para a frente, o sucesso da Netflix foi o resultado de fazer a coisa certa no timing certo mesmo quando nada indicava para tal.
No auge das dotcom, em vez de apostar logo no digital e no streaming, montou uma rede de distribuição com os Correios dos EUA, tendo apenas uma landing page para recolher pedidos de DVDs, que eram depois entregues no espaço de dois dias nos envelopes que tornaram a empresa popular.
Em 2007, quando a cobertura de Internet nos EUA já era significativa lançou o serviço de streaming como um “extra” para quem já subscrevia o tradicional serviço de aluguer de DVDs e começou a fazer os primeiros testes com a plataforma.
Em 2011, com o crescimento exponencial da Internet enquanto infraestrutura que deu escala às redes sociais, às plataformas de e-commerce e a plataformas de vídeo, a Netflix lançou o seu primeiro plano de subscrição focado no streaming, com uma oferta de filmes e séries à distância de um clique.
Em 2013, quando os custos de licenciamento de conteúdo começaram a aumentar começou a investir significativamente em produções originais, primeiro nos EUA (“House of Cards”, “Orange is the New Black) e progressivamente lá fora (“Narcos”, “Dark”, “Squid Game”), tornando-se uma marca global de entretenimento.
Desta forma, criou um playbook para o sucesso na indústria do streaming e levou a que as principais empresas como a Disney, a Warner Bros (HBO) e a Amazon seguissem os seus passos sem nunca conseguirem antecipar-se. Mas não fez isto sozinho.
Ao longo de 25 anos, Hastings também criou uma cultura forte na empresa, que começava no exigente processo de recrutamento e culminava na atribuição de responsabilidades a cada elemento da empresa, independentemente da hierarquia. Foi talvez esse sentimento de empoderamento que o levou, em 2020, a nomear como Co-CEO Ted Sarandos, para que pudesse partilhar os deveres de comandar uma marca global de entretenimento. Não é uma estrutura comum numa empresa como a Netflix, mas é o formato de liderança que se vai manter com a sua saída, anunciada na semana passada.
Reed Hasting vai agora ocupar o cargo de Executive Chairman, mantendo-se ligado à empresa, mas não à intensidade do dia-a-dia. Ted Sarandos vai manter-se como Co-CEO e o homem-forte de toda a área de conteúdos. Greg Peters era o antigo COO da Netflix e vai ocupar o lugar deixado por Hastings, ficando responsável por toda a área mais operacional onde se inclui a gestão da despesa da empresa, a expansão para novos mercados e árdua tarefa de resolver o problema da partilha de passwords.
A mudança na Netflix veio depois da plataforma de streaming ter anunciado a adição de mais 7,7 milhões de subscritores no último trimestre de 2022.
Apesar de um ano difícil, em que o preço das ações caiu 39%, a Netflix continua um passo à frente da concorrência no que diz respeito a presença internacional e à rentabilidade da sua plataforma.
Ler também: A Netflix está à procura de um hospedeiro ou de uma hospedeira para trabalhar no jato privado da empresa e é uma proposta bastante atrativa (BBC)
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