“A inteligência artificial é uma tendência, mas não é de futuro, é do presente e aquela que, segundo todos os especialistas, vai trazer maior alteração” aos órgãos de informação, afirmou em entrevista à agência Lusa, sobre o relatório de tendências e inovações nos media de Portugal e Espanha 2025/2030 que hoje é divulgado pelo Observatório Ibérico de Media Digitais e da Desinformação (Iberifier).
A IA, disse, tornou-se uma questão “impossível de ignorar” dado que muitos dos participantes no estudo do Iberifier — 71 peritos e 101 responsáveis de órgãos de informações dos dois países ibéricos – a mencionavam nas suas respostas para identificar as tendências nos media de 2025 a 2030.
O investigador aponta duas maneiras possíveis de olhar a IA. Por um lado, pode ajudar os jornalistas em “tarefas industriais”, por exemplo, na desgravação de entrevistas, traduções ou feitura de resumos, dando-lhes mais tempo para o “lado criativo” da profissão.
É essa, aliás, a opinião maioritária dos inquiridos no trabalho do observatório que integra 23 centros de investigação e universidades ibéricas, as agências noticiosas portuguesa, Lusa, e espanhola, EFE, e ‘fact checkers’ como o Polígrafo e Prova dos Factos – Público, de Portugal, e Maldita.es e Efe Verifica, de Espanha.
“Podemos ver a Inteligência Artificial no extremo que alguns investigadores e pensadores a põem, uma revolução tão grande como foi a chegada da Internet ou eventualmente maior ainda para aquilo que são as nossas sociedades (…). Ou podemos ver de uma forma não tão grandiosa como mais uma gama de ferramentas que vem contribuir para o nosso trabalho”, acrescentou.
É neste segundo grupo em que Miguel Crespo se inclui, embora com algumas ressalvas.
“Como em tudo aquilo que é criado para o bem também pode ser usado para o mal”, ou seja, automatizando processos que “não deveriam ser automatizados, como a produção de trabalhos jornalísticos complexos criativos, onde o fator humano é determinante”, disse.
Na lista de riscos inclui a possível precariedade na profissão de jornalista, mas também “mais desinformação, mais manipulação” e feita de “uma forma muito mais simples” por novas ferramentas de IA.
Haverá “maus empresários, maus gestores de média” que podem “aproveitar estas ferramentas para dispensarem pessoas”, mas Miguel Crespo acredita que haverá “profissionais que queiram investir em saber explorar estas ferramentas”.
E essas ferramentas serão importantes para outra das tendências identificadas pelo Iberifier até ao final da década: a necessidade de fazer mais verificação (‘fact checking’).
Perante um aumento da desinformação – risco identificado por 90% dos inquiridos no trabalho do Iberifier — a verificação é vista como uma resposta e os jornalistas precisam de mais formação para o fazer.
O observatório produziu um relatório de análise das tendências e inovações do ecossistema mediático em Portugal e Espanha 2025/2030, que hoje é divulgado, e conclui que os media vão passar pela ‘revolução’ da Inteligência Artificial (IA), o que vai exigir fazer mais verificação (‘fact checking’) no combate à desinformação.
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