Luísa Vasconcelos e Sousa, country manager da Swappie em Portugal, startup finlandesa de compra e venda de iPhones recondicionados na Europa, falou ao SAPO24 sobre a crescente aquisição de tecnologia que já andou por outras mãos e ganha novo “dono”.
Numa conversa via zoom explicou quais as razões que subjazem a esta tendência de consumo. Moda, preço ou novos comportamentos, o que é que está por detrás dessa cultura do reaproveitamento de bens eletrónicos que já foram novos e reentram no mercado por via da reparação.
Vai direta ao assunto e diz que a resposta está dentro da empresa. Porque é que o consumidor está comprador de telemóveis que já viveram outra vida e porque o fazem numa das empresas que mais cresce na Europa neste setor.
“É pela qualidade dos iPhones”, atesta. “71% dos clientes”, assim o confirmam, divulga. O segundo critério, centra-se no “preço, porque é uma opção mais económica”, assegura, juízo anunciado por “67%” dos que compram. “Temos iPhones a partir de 100 euros”, específica.
E, por fim, “46% fazem-no por ser uma escolha mais sustentável. Os consumidores mais jovens são mais conscientes das suas escolhas e da pegada carbónica”, remata a responsável da empresa que lembra, a propósito, o patrocínio a dois jovens surfistas portugueses, “Francisco Ordonhas e o Francisco Mittermayer”, eles próprios utilizadores “de telemóveis recondicionados”, revela.
Recua ao tema que espoletou a conversa. “Poucos sabem a diferença entre usado e recondicionado”, chama a atenção. “A perceção é que recondicionado é usado, mas não é”, assegura.
Pormenoriza o processo de economia circular e combate ao lixo tecnológico encetado. “Vendemos e compramos. E quando compramos, o iPhone passa pelo processo de recondicionamento em 52 passos, em que controlamos o processo nos dois centros que temos na Finlândia e Estónia”, explica Luísa Vasconcelos e Sousa, centros onde trabalham “500 pessoas” sendo que o grupo emprega “mais de 750” colaboradores.
“Não importa o estado, passa sempre pelo processo, reparação e colocação no mercado. Se não estiver capaz, reciclamos para outras reparações”, frisa, ao esclarecer sobre o modus operandi desta oficina ou hospital, como lhe queiramos catalogar, em que o telemóvel entra a necessitar de intervenção e sai com nova vida.
A Swappie só está presente no mercado europeu e os países do Sul são um mercado efervescente. Deslocalizar unidades de reparação para o sul da Europa está em equação, mas ainda não passou do plano das ideias. “Pensámos, mas requer investimento e treino de especialização dos recursos humanos, porque o iPhones são um produto difícil de reparar e é necessária muita educação”, realça.
Da necessidade de um telemóvel surge um emprego
A country manager da Swappie para Portugal e, mais recentemente, Irlanda, sabe do que fala quando o tema é smartphones recondicionados. Recorda o primeiro contacto com o negócio que hoje abraça e que a levou a transitar do Facebook (Meta) para este marketplace de compra e venda da icónica marca criada por Steve Jobs.
“Estava a viver na Irlanda, Dublin, e na altura não havia outras empresas no mercado. “À procura de um telemóvel recondicionado) Descobri a Swappie há 3 anos e decidi trazê-la para o mercado português”, lembra a atual responsável da marca em Portugal que cavalgou uma necessidade para transformá-la no seu novo emprego.
Ao longo de oito anos, a startup criada na Finlândia por Sami Marttinen e Jiri Heinonem ultrapassou um número simbólico em vendas. “Já vendemos mais de 1 milhão de telemóveis recondicionados desde 2016, mas não está atualizado”, continua.
A política de empresa não permite a discriminação de números por país. “Tivemos 195 milhões de euros em vendas, em 2021, 208 milhões em 2022”, refere. “De 2023 ainda não partilhámos os dados”, diz. Pelo meio, “levantámos um investimento de 108 milhões, há dois anos”, pormenoriza.
Entre a estratégia de crescimento nas vendas, ou crescimento das compras que por sua vez poderá dar origem a novas vendas, Luís Vasconcelos e Sousa é clara. “O foco é na compra de iPhones. É um mercado que tem muito para crescer, no ano passado crescemos 3 dígitos e queremos continuar a crescer”, promete.
“A nível europeu só 15 por cento dos telemóveis são reciclados. Há muito espaço para crescer”, garante.
O crescimento passa também pela multiplicação orgânica. “Abrimos um centro logístico na Alemanha, uma espécie de Amazon, para estar mais perto do consumidor da Europa Sul e temos outro centro em Helsínquia”, informa.
Próximo passo: um ATM, a máquina que recebe e avalia
Assente nas vendas online, Portugal deve, em breve, acolher um novo modelo, físico. “Estamos à espera de testar o ATM”, anuncia. “Já abrimos na Suécia a compra de iPhones num quiosque digital”, desvenda sem aprofundar quando é que esta espécie de caixa automática de venda (e compra) de smartphones será realidade em território nacional.
“Os consumidores têm telemóveis em casa sem estarem funcionais e têm a perceção de que não os podem vender”, afirma. Com este ATM, o comprador “recebe ou deposita o telemóvel” na tal caixa sendo “uma forma mais fácil e acessível do que enviar”, sublinha.
Após a receção do equipamento, sem intervenção humana, a máquina faz tudo. um verdadeiro check-up ao equipamento. “Avaliamos o estado e damos um valor ao consumidor de quanto é que vale. Pode optar por receber esse valor na conta ou trocar e fazer um upgrade”, conclui Luís Vasconcelos e Sousa.
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