
Figura destacada da política e da economia canadianas, o luso-canadiano Carlos Leitão regressa à política como candidato liberal pelo círculo federal de Marc-Aurèle-Fortin, em Laval, uma das maiores cidades da província do Quebeque.
Com uma população de cerca de 110 mil eleitores — dos quais entre dois a três por cento são de origem portuguesa —, a circunscrição é atualmente representada por Yves Robillard.
“É um novo capítulo. Durante oito anos representei a zona de Robert-Baldwin, no oeste da Ilha de Montreal, e agora aceitei este desafio em Laval, uma área francófona e tradicionalmente liberal, onde acredito poder fazer a diferença. Não vim apenas para marcar presença, vim para contribuir ativamente”, afirmou o candidato luso-canadiano, de 69 anos, em entrevista à agência Lusa.
Natural de Peniche, Carlos Leitão emigrou para o Canadá em 1975. Formou-se em Economia pela prestigiada Universidade McGill e trabalhou durante três décadas no setor financeiro, incluindo 20 anos no Royal Bank of Canada e uma década como economista-chefe da Laurentian Bank Securities.
Em 2014 entrou na política provincial pelo Partido Liberal do Quebeque, tendo ocupado a pasta das Finanças até 2018 e presidido ao Conselho do Tesouro entre 2016 e 2017.
O regresso à política, agora a nível federal, surge num momento que considera crítico para o país.
“A chegada do Presidente Trump à Casa Branca mudou profundamente a relação bilateral com os Estados Unidos. Durante décadas, os americanos foram parceiros fiáveis. Hoje são, na melhor das hipóteses, imprevisíveis. Temos uma guerra comercial em curso, e isso está a causar uma retração séria do investimento privado e uma travagem brusca da economia canadiana”, alertou.
Segundo Leitão, a incerteza generalizada está a travar decisões.
“As empresas pararam de investir. Os consumidores adiam decisões importantes. Compramos um carro? Esperamos. Compramos uma casa? Talvez depois. Há uma espécie de paralisia económica gerada pelo ambiente volátil vindo do sul da fronteira. E isto, se continuar, pode arrastar-nos para uma recessão ainda este ano”.
Defensor de uma economia mais diversificada, o ex-ministro considera essencial mudar de rumo.
“O Canadá tem de se libertar da dependência dos Estados Unidos. Aprendemos de forma brutal que não podemos estar tão expostos. A alternativa lógica é a diversificação — Europa, América do Sul, Ásia. Não é por acaso que o primeiro-ministro, Mark Carney, escolheu Paris e Londres como destino da sua primeira visita oficial. O acordo de comércio com a União Europeia tem de ganhar nova vida”, afirmou.
Questionado sobre uma eventual entrada no executivo, caso os liberais vençam as eleições, Leitão mostrou-se disponível.
“Não há garantias nem promessas, mas estarei pronto para servir se for chamado. Acredito que a minha experiência enquanto ministro das Finanças pode ser útil na discussão de políticas económicas à escala nacional”.
Em relação aos temas da campanha, antevê um debate centrado em questões nacionais.
“As campanhas federais raramente se decidem por temas locais. A guerra comercial, a política externa, a resposta económica — são os grandes eixos desta eleição. No Quebeque há sempre particularidades, e posso contribuir levando a perspetiva económica da província para Otava. O Quebeque tem uma estrutura económica distinta do resto do país e é importante que essa voz seja ouvida”, declarou.
Sobre a comunidade portuguesa no círculo onde se candidata, o luso-canadiano reconhece que, embora relativamente pequena na zona de Sainte-Rose, está bem representada noutros pontos da cidade.
“Laval é um grande subúrbio com quatro círculos federais. A comunidade portuguesa está dispersa, mas é significativa. Temos uma igreja, Nossa Senhora de Fátima, e muitos portugueses que vivem aqui e trabalham em Montreal. É uma comunidade trabalhadora, discreta, mas presente.”
Quanto às soluções para a atual conjuntura económica, Leitão aponta para uma recuperação cautelosa.
“A inflação está mais controlada, o Banco do Canadá já reduziu as taxas de juro duas vezes este ano, e isso abre caminho a uma retoma na segunda metade de 2025. Mas tudo depende da estabilização das relações comerciais. Se a guerra de tarifas continuar, arriscamo-nos a prolongar o abrandamento”.
Além da economia, defende a importância de restaurar a confiança democrática e a estabilidade política.
“O país precisa de liderança estável e de uma visão clara para os próximos anos. Com a experiência que tenho, posso ajudar a formular essa visão e a implementar políticas que sirvam os interesses dos canadianos”.
Leitão manteve-se politicamente ativo após sair da Assembleia Nacional do Quebeque em 2022, tendo apoiado a candidatura de Frédéric Beauchemin à liderança do Partido Liberal do Quebeque. O anúncio da sua candidatura federal representa, nas suas palavras, “um regresso com propósito”.
“Estou motivado. O país está num momento decisivo. Não se trata apenas de voltar à política. Trata-se de participar na construção de um futuro mais seguro, mais autónomo e mais justo para o Canadá”, concluiu.
O Canadá vai a eleições federais antecipadas no próximo dia 28 de abril, na sequência da demissão de Justin Trudeau no início deste ano.
Mark Carney foi eleito líder liberal a 09 de março, assumindo a chefia do Governo canadiano.
Num curto espaço de tempo, os liberais — que desde 2021 surgiam nas sondagens como potenciais derrotados — reaparecem agora como os principais favoritos, podendo conquistar a maioria dos 343 distritos eleitorais do país.
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