O 'arquivo.pt', um projeto da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), é um repositório das “primeiras edições” de todas as páginas ‘web’ criadas em Portugal e reúne mais de dois milhões de ficheiros desde 1996.
Daniel Gomes, gestor do 'arquivo.pt', afirma que o 'online' há muito que deixou de ser uma mera representação de informação que também existia em papel, o que justifica a importância de um arquivo da informação imaterial em que assenta a sociedade atual.
“Se não guardarmos a informação digital, não temos nada. Produzimos imensa informação, mas também perdemos muita e quando tentarmos aceder a informação de há um ano ou mais, não temos nada”, diz Daniel Gomes.
Dados da FCT indicam que 80% das páginas ‘web’ desaparecem ou são alteradas apenas passado um ano da sua criação e, diz Daniel Gomes, quando se quiser mostrar como tudo começou, ver as "primeiras edições" históricas, “não temos nada”.
O que o 'arquivo.pt' - que pode ser acedido a partir de qualquer computador ou smartphone e que funciona como um motor de busca - faz é preservar a versão primeira das páginas ‘web’, antes de serem modificadas, ampliadas ou extintas.
“Não conseguimos viver sem memória. Uma sociedade sem passado é uma sociedade sem futuro”, defende Daniel Gomes, lembrando que "não passaríamos de uma sociedade amnésica".
Daniel Gomes afirma que ainda que a humanidade esteja constantemente a cometer os mesmos erros, seja na guerra ou na fome e que, tudo isto se deve ao facto da maioria das pessoas não utilizarem o “acesso à memória”.
Para o gestor do projeto, o 'arquivo.pt' é um exemplo de que se pode criar acesso universal a uma memória coletiva, com uma dimensão de utilidade prática quotidiana.
“Aconteceu termos sido contactados por uma pessoa que trabalhava numa loja de apoio ao cliente [de uma operadora de telecomunicações], que nos disse que apareciam recorrentemente pessoas na loja que não mudavam de tarifário há muitos anos e já não tinham memória de que tarifário se trataria”, lembrou.
“O que o lojista passou a fazer foi ir ao 'arquivo.pt' para consultar as antigas páginas ‘web’ com informação sobre esses tarifários, o que resolvia o problema em breves segundos, ao contrário do que iria ocorrer se fossem usados os sistemas da própria loja, atualizados, mas sem memória histórica”, descreveu.
O 'arquivo.pt' teve o seu início num projeto de investigação académico e começou com a ideia de fazer uma recolha das principais páginas ‘web’ portuguesas.
Em 2017, o arquivo teve mais de 100 mil utilizadores.
Em 'arquivo.pt' encontram-se ainda formações gratuitas para empresas ou instalações que pretendam utilizar o arquivo, podendo dirigir-se à empresa ou vice-versa.
As formações incluem módulos de “como pesquisar no arquivo”, “como criar informação de forma a ser bem preservada” e “interfaces de programação que permitem desenvolver novas aplicações de forma mais rápida”.
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