Hoje os olhos estão postos em Cupertino, São Francisco, sede da Apple. Não é exatamente o mesmo que já foi quando Steve Jobs fazia mais uma apresentação um evento planetário, mas a Apple continua a ser Apple e "it's show time" [nome do evento]. De facto, o espetáculo já começou, as estrelas estão alinhadas (e fizeram-se presentes). Estas são as novidades da marca da maçã — e não incluem telemóveis, computadores ou relógios.
Amazon e Netflix, a TV+ da Apple chegou!
Programas originais, filmes e documentários. É a vez da Apple se lançar nisto dos serviços de streaming de vídeo com a sua TV+. O anúncio desta plataforma era bastante aguardado e sabe-se agora que estará disponível a partir do outono deste ano.
E a empresa quis dar este passo munida de grandes nomes da televisão e do cinema (alguns dos quais marcaram presença no evento), prometendo programas de Oprah Winfrey, Steven Spielberg, Jennifer Aniston, Reese Witherspoon, Octavia Spencer, J.J. Abrams, Jason Momoa, M. Night Shyamalan, entre outros. Uma curadoria de meter respeito.
O preço de subscrição da plataforma de streaming TV+ ainda não é conhecido. A empresa decidiu adiar o anúncio do mesmo para o outono deste ano, mais perto da data de lançamento da plataforma.
Mas a Apple pode contar desde já com concorrência à altura: os rivais Netflix e Amazon investem bastante para conseguir a atenção (e a assinatura) dos telespetadores, e contam já com filmes e séries premiadas. Ao mesmo tempo, as grandes empresas de media estão a consolidar terreno e oferta, com a Walt Disney (que comprou a 21st Century Fox) e a AT&T (que comprou a Time Warner) a planearem lançar ou testar os seus serviços de streaming este ano.
E, apesar de comissionar programas a grandes nomes da televisão e do cinema, com um investimento estimado de 2 mil milhões de dólares este ano em programas originais, é pouco provável que a Apple dê luta à Netflix ou à Amazon.
Então, o que é que é que a Apple tem a seu favor? O potencial de audiência. A empresa estima alcançar centenas de milhões de utilizadores, considerando que, em janeiro, contabilizava 1,4 mil milhões de dispositivos Apple ativos, 900 milhões dos quais são smartphones. Isto contra 139 milhões de subscritores da Netflix e 100 milhões de subscritores do Amazon Prime em todo o mundo.
Para complementar, a Apple lançou também hoje uma renovada aplicação da Apple TV e há novos canais a chegar já em maio à aplicação.
A aposta da Apple em conteúdo original é uma mudança fundamental no seu modelo de negócio. E compreende-se, já que as vendas das suas estrelas da companhia, iPhones (telemóveis), iPads (tablets) e Macs (computadores) estagnaram no último ano fiscal. Ao invés do que aconteceu com a receita da área de serviços da Apple — onde se inclui a App Store, o iCloud ou o Apple Music - que cresceu 24% para 37,1 mil milhões de dólares no mesmo ano fiscal. Apesar de ainda só representar 14% das receitas totais da apple (265,6 mil milhões de dólares) da empresa, os investidores acreditam no seu potencial de crescimento.
News+, um Spotify das notícias
Uma "nova experiência de leitura" de notícias, personalizada e imersiva. É esta a promessa da empresa de Cupertino para a área da informação noticiosa. O Apple News+ é um serviço de subscrição que permite aceder a 300 publicações, desde revistas a jornais, dentro da aplicação News App.
Disponível nos Estados Unidos e no Canadá, este serviço propõe-se a oferecer uma experiência premium, com curadoria, disponibilizando a subscritores os melhores artigos destas marcas — que se somam à experiência gratuita da app Apple News.
"Estamos comprometidos em apoiar jornalismo de qualidade, e com o serviço Apple News+ queremos celebrar os grandes trabalhos que estão a ser feitos por revistas e jornais", diz Lauren Kern, editora-chefe do Apple News.
Entre as publicações parceiras estão nomes de peso como The Atlantic, ELLE, Esquire, National Geographic, New York Magazine, The New Yorker, TIME, Vanity Fair, Vogue, WIRED, entre outras revistas. Assim como jornais de renome, como o The Wall Street Journal, o Los Angeles Times e o Toronto Star. Entre os novos media digitais, destacam-se presenças como theSkimm ou TechCrunch.
E quanto ao preço? 9,99 dólares (cerca de 9 euros) por mês nos Estados Unidos. Os utilizadores podem gozar de um mês de utilização grátis para experimentar.
Televisão, cinema, notícias e claro... jogos!
E claro, na onda das subscrições, a Apple apresentou também hoje a Apple Arcade, uma plataforma de subscrição de jogos para dispositivos móveis e para computadores.
Segundo a empresa, esta plataforma contará com mais de 100 jogos novos e exclusivos, incluindo originais de criadores como Hironobu Sakaguchi, Ken Wong e Will Wright, entre outros.
Com esta aposta a Apple pretende complementar a sua oferta, considerando que a App Store da marca [loja digital onde se descarregam aplicações] oferece atualmente cerca de 300 mil jogos (entre gratuitos e pagos).
Para jogar vai ser preciso esperar também até ao outono deste ano. O serviço ficará então disponível para 150 países.
Este anúncio tem lugar depois de a Google ter anunciado este mês, a 19 de março, uma nova plataforma de streaming de videojogos chamada Stadia.
Portanto, a Apple não está nesta corrida sozinha, e no futuro a questão que se vai colocar é em termos de oferta, ou seja, o catálogo destas plataformas e as condições das mesmas — de forma a que consigam atrair produtoras e jogadores. É ainda de considerar a hipótese de as produtoras de videojogos avançarem também para este tipo de plataformas.
Apple Card
É um cartão de crédito digital que chega no verão de 2019 aos Estados Unidos. O Apple Card promete transações simples, sem custos adicionais e baixas taxas de juro. Para obter um Apple Card basta subscrever através da aplicação Wallet no iPhone e aí ter um cartão digital que pode ser usado em todos os lugares onde o Apple Pay é aceite.
Através do telefone os utilizadores podem também manter-se a par do seu saldo e movimentos de cartão. A ideia, diz a empresa, é "ajudar os utilizadores a terem uma vida financeira mais saudável". A empresa da maçã vai igualmente utilizar inteligência artificial e o seu sistema de Mapas para identificar as lojas e os produtos adquiridos, agregando esta informação em grandes categorias de produtos.
Haverá, todavia, um cartão físico, para ser utilizado em lojas que não aceitem Apple Pay. No entanto, este não terá qualquer informação habitual de um cartão deste tipo — número de cartão, CVV, data de expiração, ou assinatura —, já que todas as informações são guardadas digitalmente.
O Apple Card tem um sistema de incentivo à utilização com os clientes a receberem uma percentagem por cada transação (compra) que efetuem digitalmente (2%) e sempre que comprarem diretamente à Apple (3%). Caso utilizem o cartão físico, recebem de volta 1% do valor da compra efetuada.
Não há custos associados à utilização do cartão e o objetivo da empresa é praticar taxas de juro que estão entre as mais baixas praticadas no mercado, diz a empresa, sem especificar para já. Mais, caso o cliente se atrase a pagar o crédito não existirá uma taxa de penalização, promete a Apple. E para ajudar os clientes a fazer "escolhas informadas", o Apple Card mostra várias opções de pagamento do crédito, calculando em tempo real as taxas de juro associadas.
Para este novo serviço, a Apple junta-se à Goldman Sachs e à Mastercard.
E é assim, sem telefones, relógios ou computadores que a Apple dá o pontapé de saída para mais uma etapa da empresa. Desta vez, não se comparam processadores, câmaras fotográficas ou mesmo tamanhos de ecrã. Desta vez, o conteúdo é rei.
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