“Nunca dissemos que temos de banir alguns fabricantes [dos mercados europeus]. O que dizemos é que temos de fazer uma avaliação dos riscos e depois, com base nessa informação, podemos dizer se a Huawei pode avançar, se banimos ou não alguns fabricantes e se temos de investir para proteger as nossas linhas de produção, a privacidade dos nossos cidadãos”, afirmou em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, o vice-presidente da Comissão Europeia Andrus Ansip.
Falando a propósito da polémica com a fabricante chinesa Huawei, sobre a qual recaem suspeitas de espionagem nos dispositivos 5G, o responsável do executivo comunitário pela área do Mercado Único Digital, admitiu que Bruxelas “está preocupada com as empresas chinesas” e que os Estados-membros também “devem estar”.
“Gostaríamos de cooperar com aqueles que respeitem as leis nacionais e não estamos prontos para colaborar com aqueles que estão dispostos a violar as suas próprias regras”, notou Andrus Ansip.
Na semana passada, Bruxelas apresentou medidas para os países da União Europeia (UE) adotarem na implementação do 5G, permitindo-lhes excluir empresas “por razões de segurança nacional”.
Nessa recomendação, a Comissão Europeia pediu, também, que os Estados-membros façam até junho uma avaliação nacional das infraestruturas da rede 5G, analisando, desde logo, “riscos técnicos e os riscos associados ao comportamento de fornecedores ou operadores, incluindo os provenientes de países terceiros”, isto é, fora da UE.
Depois, deverá ser feita uma avaliação geral dos riscos na União, até outubro, de forma a encontrar uma “abordagem comum” às ameaças.
Até ao final do ano, os Estados-membros devem chegar a acordo sobre medidas de mitigação, que podem passar por questões como requisitos de certificação, testes, monitorização, assim como a identificação de produtos ou fornecedores considerados potencialmente não seguros.
Apesar desta atuação, Andrus Ansip rejeitou que a UE esteja a tomar partido dos Estados Unidos, que acusam a Huawei de espionagem industrial e outros 12 crimes e que, por isso, proibiram a utilização de produtos da marca em agências governamentais, estando ainda a pressionar outros países, como Portugal, a excluírem a empresa no desenvolvimento das redes 5G.
“Muitos chineses dizem que a UE decidiu apoiar os Estados Unidos nesta guerra comercial. Desculpem, [mas] na Europa temos os nossos interesses e as nossas preocupações e temos de proteger a segurança da nossa população e das nossas empresas”, salientou o responsável.
E reforçou: “Não estamos a ser influenciados pelos Estados Unidos. E não, não recebi chamadas de Washington”.
“Temos de proteger a nossa população e as nossas empresas e não é para apoiar um em vez do outro no seu conflito”, insistiu Andrus Ansip.
O responsável indicou à Lusa que tem estado em contacto com a Huawei, tendo-se reunido em março, em Bruxelas, com o atual presidente executivo da companhia (cargo rotativo), Ken Hu, para discutir a cibersegurança e o 5G a pedido deste empresário chinês.
“A Huawei já tem outra postura agora. Nós reunimo-nos aqui, neste escritório, e disseram que entendiam totalmente as preocupações dos cidadãos europeus. Isto já é uma mudança porque no início diziam que não havia fundamentação para qualquer preocupação e agora perceberam que há grandes preocupações e comprometeram-se a ser abertos, transparentes, respeitadores dos padrões europeus”, destacou Andrus Ansip.
Segundo o responsável, este é já “um bom caminho para chegar a um consenso”.
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