O cafezinho ao qual costumo ir está fechado esta semana. No centro de Lisboa, ou do Porto, ou de qualquer outra cidade, é totalmente indiferente, procura-se uma alternativa com facilidade. Na aldeia a conversa é outra. Por essa razão, fiz os três quilómetros até à aldeia mais próxima – talvez já tenha o estatuto de vila, não sei dizer – e entrei num café que anuncia, em letras coladas na montra, que tem pão sem fermento e outras iguarias. Pedi uma sopa e sentei-me.
No total, no interior do estabelecimento, haveria cinco mesas. Ao meu lado, uma senhora conversava com a empregada atrás do balcão. As comidas preferidas e o preço das coisas. O melhor será comprar redfish congelado, porque ir à peixaria é um desgosto, dizia uma. E eu, logo depois da sopa, comprovei que a peixaria me parecia mais uma ourivesaria. A peixeira, muito simpática e animada, disse-me que os preços subiram porque tudo subiu, a menina imagina o que se gasta de gasóleo para ir ao mar? Não, não imagino, mas sei que o meu depósito parece um poço sem fundo e que o preço do combustível é, de momento, uma das maiores preocupações familiares.
E depois, um cliente que tinha cismado em comprar quatro linguados, mas só existiam três e a hesitação levou-o a prolongar a sua permanência ali. Meteu-se na conversa e disse que o problema é “mais do que os veículos de transporte”, que era bom não esquecer a agricultura e ainda as casas cujo aquecimento é feito a gasóleo. Pelos vistos era o seu caso e, depois de dizer o que gasta hoje em dia e o que gastava há quinze anos, pensei que estamos todos tramados, é um assalto à mão armada.
Gradualmente vamos sentir mais e mais efeitos da guerra que assola a Ucrânia. Tudo está interligado, somos mesmo a tal aldeia global e dependemos uns dos outros. A crise económica terá contornos diferentes dos da crise de 2008, certamente que sim. Depois de dois anos de pandemia, o que está a acontecer é um pesadelo cujo final não se adivinha. As pessoas que falam de encenações e de mentiras da Europa, para manter determinados poderes, dão-me vontade de esbofetear alguém (desculpem a indirecta Will Smith, não foi deliberada).
Perante esta guerra terrível, testemunhada pela imprensa global com imagens que não deixam espaço para dúvidas, questionar os crimes de guerra é o mesmo que acreditar que o preço do combustível vai voltar ao preço de outros tempos.
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