Depois do fim de semana em que o céu do Médio Oriente se converteu em campo de batalha, quando o Leste da Europa está em alerta para a ameaça bélica que já faz da Ucrânia terra sangrenta, Donald Trump está convocado para se sentar na manhã desta segunda-feira no banco dos réus de um tribunal criminal de Manhattan, Nova Iorque – o primeiro ex-presidente dos EUA a ser processado criminalmente.
Trump enfrenta 34 acusações criminais de falsificação de documentos sobre pagamentos relacionados com serviços sexuais prestados ao ex-presidente. Esses pagamentos foram processados sob a capa fictícia de despesas operacionais de campanha, foram prestados por Stormy Daniels, que se faz apresentar como “porno star”. A acusação ao ex-presidente envolve a de suborno para que ela esquecesse tudo da relação extramatrimonial de Trump.
Entre os vários processos judiciais em curso contra Trump, este é o primeiro de quatro em que a acusação aponta para condenação a pena de prisão. Os outros processos por crimes a que corresponde pena de prisão correm em tribunais da Florida, da Georgia e da capital federal, Washington D.C., e têm a ver com a pretensão de falsificar resultados eleitorais (na Georgia), e com incitamento a rebelião (a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021).
É improvável que estes outros julgamentos possam ter início antes de 5 de novembro, dia da eleição presidencial.
A vasta equipa de advogados de Trump tem tentado todas as manobras e negociações para adiar qualquer dos julgamentos que entram pela longa agenda judiciária de Trump. Mas neste tribunal criminal de Manhattan o juiz titular do processo recusa mais adiamentos: Trump está intimado a comparecer no banco dos réus, nesta segunda-feira, 15 de abril, para um julgamento com duração prevista de dois meses – ou seja, a entrar por um período intenso da pré-campanha presidencial. Com Trump obrigado a estar presente nas sessões apontadas para quatro manhãs em cada semana.
Com base em amostras anteriores, é de prever que Trump trate de transformar tudo o que rodeia as audiências de julgamento em sessões de campanha, a procurar inflamar os seguidores incondicionais com o argumento de que está a ser vítima de uma conspiração política urdida pelo vasto braço democrata na justiça.
Mas a acusação promete fazer doer à gente de Trump ao expor baixos instintos do ex-presidente agora outra vez candidato.
A começar pelo suborno a pretender enterrar o caso das aventuras sexuais do candidato presidencial com uma estrela dos ecrãs pornográficos.
Depois o ardil para colocar o pagamento como despesa de advogado e então homem de confiança, Michael Cohen – que ao ser apanhado se voltou contra Trump.
Acresce entre as acusações, o crime de viciação de despesas de campanha eleitoral, para ocultar o pagamento de serviços sexuais.
Toda a história já tem quase duas décadas, mas irrompeu em 2016, em pleno duelo presidencial Donald Trump/Hillary Clinton, quando a atriz pornográfica Stormy Daniels avisou Trump de que iria revelar numa entrevista a um jornal de escândalos e a uma TV a aventura intensa, com muitas cenas obscenas, que teve com ele, em 2006, quando a esposa, Melania, estava quase a dar à luz o único filho de ambos. Então, segundo a acusação que usa como prova o testemunho do advogado e ex-amigo Michael Cohen, Trump comprou o silêncio de Stormy Daniels por 130 mil dólares (um pouco mais de 120 mil euros).
Mas a pretensão de silêncio saiu furada. A coisa soube-se e chegou à justiça com evidências de vários crimes na lei dos EUA.
A acusação sustenta que Trump mandou meter este pagamento nas despesas de campanha presidencial, o que implicou falsificar faturas e registos de movimentos financeiros.
O advogado que funcionou como intermediário, Cohen, em processo separado, confessou e veio a ser condenado, em 2018, a três anos de prisão pela prática ilícita que agora recai sobre Trump.
Estão prometidas semanas de baixo espetáculo mediático, dentro e fora do tribunal. Os primeiros dias vão ser preenchidos com a seleção de jurados, entre 1,5 milhões de cidadãos residentes em Manhattan, processo que vai ser um combate para os advogados de Trump que vão dar tudo para conseguir que o júri tenha gente conveniente aos interesses do ex-presidente. Estão definidas 42 perguntas de cujas respostas dependerá a aceitação ou recusa da pessoa convocada para integrar o júri.
Depois, vai ser o confronto de argumentos.
Tudo isto com Trump, o candidato que se põe fora dos compromissos de defesa mútua entre os aliados na NATO, a continuar em empate técnico com o democrata Joe Biden, na corrida para a próxima presidência dos Estados Unidos da América.
Comentários