Talvez caia o Carmo e a Trindade

O ser humano é pouco coerente, já se sabe. Sente um abalo na terra, morde os lábios, faz cenários e, cheio de boas intenções, garante que irá preparar-se. Será inteligente e prevenido. Irá saber os lugares de emergência, terá comida enlatada, água, pilhas e lanterna em casa. Terá um stock de comida para os animais domésticos e dinheiro vivo porque, em caso de apagão electrónico, só conseguirá fazer compras se tiver algum dinheiro. Os atm deixarão de funcionar, os postos de abastecimento também, não haverá forma de carregar telemóveis ou computadores, por isso o dinheiro vivo importa.

Com o sismo desta semana voltámos ao assunto que, em agosto passado, tinha levado muitos órgãos de comunicação social a publicar vários textos sobre os putativos danos colaterais de um desastre natural. Muitos especialistas foram consultados. Não há a menor dúvida:

Lisboa é uma zona de risco. Lisboa vive na sombra agoirenta do terramoto de 1755. Passaram-se 270 anos e muitos preferem pensar: “Isto não voltará a acontecer”. Pois, quem sabe? Caso tenhamos um terramoto similar, a baixa pombalina irá à vida certamente, talvez caia de vez o Carmo e quem sabe a Trindade. Por mais simulações que a proteção civil faça, a verdade é que não temos como prever o impacto real de um abalo similar ao do século XVIII.

O ser humano, na senda do empurrar com a barriga, como faz com tantas outras coisas, ocupou-se com estes melindres nos últimos dias. Para a semana, já ninguém fala nisso. Desculpem, hoje já ninguém fala nisso.