O The Daily Show durou 16 anos. Se fosse em Portugal, era um fenómeno: 16 anos no ar, facto absolutamente normal por esse mundo fora (quando falamos de programas de sucesso, com estrutura sólida, estruturada, e audiência fixa), seria entre nós motivo de debate, critica reclamação. E penso nisto quando leio as críticas que têm sido feitas ao regresso de Ricardo Araújo Pereira - queira ou não usar-se o nome Gato Fedorento, ainda que amputado de um membro - no programa “Isto é tudo muito bonito, mas” (TVI, diariamente às 21:00). O que todos os que gostam daquele grupo de humoristas desejavam era que eles não defraudassem nem mudassem o seu registo - e foi isso que eles fizeram. Bem.
Pois é justamente esse o argumento crítico para dizer mal do programa. Que é de novo o mesmo registo. Que não inova. Que não mudou. Se porventura tivesse mudado, teríamos um coro de críticas a pedir o regresso dos “antigos” Gatos - como não mudou, temos a mesma critica virada do avesso. Presos por ter cão, presos por não ter.
Confesso: tenho cada vez menos paciência para esta atitude bem portuguesa de pedir mudança mesmo quando não é desejada. Uma espécie de inveja mal disfarçada que se vinga na crítica fácil.
Eu gosto do programa da TVI exactamente porque não defrauda o gosto que já tinha nos programas anteriores daquela equipa. Podem estar 16 ou 20 anos no ar - porque esse deveria ser, em televisão, o caminho de quem faz bem o que se propõe fazer.
Jon Stewart parecia que falava para Portugal quando recebeu o prémio: "A todos os que trabalham em televisão, só quero dizer-vos, agarrem-se o mais que puderem". Eu diria o mesmo ao Ricardo e à sua equipa: agarrem-se e não mudem. Os que vos querem diferentes são os que não vos querem no ar.
Coisas que me deixaram a pensar…
Por que raio a excelente revista espanhola Tapas, que tem vindo a inovar a abordagem dos media ao mundo da gastronomia e da restauração, e que aqui ao lado custa 4 euros, chega a Lisboa atrasada, a 10 euros, e em inglês…
Arturo Pérez-Reverte recebeu há poucos dias o Premio Colunista do El Mundo, numa cerimónia dedicada ao jornalismo espanhol. Para lá da cobertura do jornal, o discurso de Pérez-Revert, sublinhando que a imprensa livre é ainda o último dos medos dos poderosos, merece leitura atenta…
Para quem desconfia, ou evita, a ideia de “sociedade civil”, eis um bom exemplo que desfaz dúvidas: o Expresso conta como chegou à Sérvia uma generosa quantidade de bens, reunidos a partir de uma ideia modesta no Facebook. Aplausos.
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