A Polónia invoca o artigo 4.º da NATO e este diz: "Os Aliados vão reunir-se quando, na opinião de um deles, a integridade territorial, a independência política ou a segurança de um dos Aliados é ameaçada".
Dois mísseis caíram em território polaco, causando mortos (ou mesmo que tal não tivesse acontecido) e precisamos de ter outra perspectiva sobre o que acontece entre a Rússia e a Ucrânia desde 24 de fevereiro deste ano. Sim, os mísseis não são russos e estes apressaram-se a negar que os mísseis fossem seus.
Esta guerra não tem corrido como o senhor Putin teria congeminado inicialmente, vendo-se senhor todo-poderoso e vencedor sem esforço, como se os ucranianos não tivessem nem vontade de defender o seu país, nem a sua autodeterminação, identidade e cultura. Porque o senhor Putin é um tipo porreiro, a anexação era uma coisa pacífica, uma pequena contenda de trazer por casa. O senhor Putin, se assim pensou, deverá estar a tomar muitos medicamentos para o refluxo e má digestão. Mas enquanto o mesmo dirigente não cede, por vaidade, por orgulho, sabe-se lá porquê, e a guerra continua, os mortos acumulam-se. E os mortos gritam connosco. Não apenas com o líder russo; gritam connosco, com os europeus, que vivemos no mesmo continente, separados por fronteiras que só existem quando dá jeito, e que se desfazem em nome de uniões e coesões que, vai-se a ver, não são o que parecem.
Estamos em guerra desde 24 de fevereiro. Os mortos gritam que já chega. O Inverno está a chegar e é terrível, é o tal general Inverno, capaz de derrotar tudo. A crise económica é imparável. E a guerra?
Os mortos gritam, senhores. São os ataques, os mortos, as violações, as torturas, o total esquecimento do que é ser-se gente e ter direitos. Vimos as imagens, comovemo-nos com gestos e discursos (até com o ator Sean Penn a entregar o seu Óscar a Zelensky). Os mísseis que caíram na Polónia são ucranianos, mísseis de defesa. Um erro. Dois mortos.
Uma guerra generalizada não é uma guerra circunscrita e não podemos encolher os ombros e considerar que não estamos em guerra. Isto é uma guerra generalizada e, gritam-nos os mortos, está a ser o fim de muito mais do que a vida que ambicionámos para nós. Está a ser o fim da vida que sonhámos para os nossos filhos. O medo reina.
O senhor Putin também terá medo, até ao momento em que o orgulho se sobreponha a tudo. E depois? Não sabemos. O mundo precisa de fazer o que deveria ter feito no início do ano: mostrar ao senhor Putin que ele não é o dono disto tudo. Nem vai ser.
Comentários