O ritual do conclave é um exemplo brilhante de storytelling visual. Não há palavras, não há  voz-off, não há interface. Só duas cores e uma chaminé. Ainda assim, milhões de pessoas  ficam em suspenso à espera de uma resposta.  

É isto que as marcas deviam aprender: simplicidade que emociona! A beleza da simplicidade 

Quando o Vaticano comunica com o mundo, não utiliza ecrãs 8K nem inteligência artificial.  Usa um símbolo que todos reconhecem. Um código universal, sem necessidade de  tradução, que qualquer pessoa decifra, esteja onde estiver. 

No marketing, infelizmente, esquecemo-nos disto com demasiada frequência. Complicamos. Enchemos o discurso de buzzwords, efeitos especiais, muitos dados, corremos atrás de ideias extremamente complexas e acabamos por perder a essência. A verdade é que as pessoas se conectam mais depressa a coisas simples, humanas e reais.  Veja-se o famoso tudum da Netflix: um som de dois segundos que já vale mais que muitos  jingles publicitários om produção digna de Super Bowl. 

A força das tradições 

O conclave não mudou. É um ritual que sobreviveu aos séculos. Não foi gamificado, nem  transformado num espetáculo com drones iluminados ou realidade aumentada. Já parou para pensar que talvez seja essa resistência à inovação forçada que o torna tão  poderoso? Numa realidade em constante reinvenção, há algo de profundamente  reconfortante no que permanece igual. 

As marcas deviam refletir sobre isto: que rituais estão a criar para serem lembradas? 

Pensemos no clássico som da Coca-Cola ao abrir uma garrafa/lata ou até mesmo no  unboxing meticuloso de um produto Apple. Esses pequenos momentos criam uma ligação  emocional e deixam marcas na memória de cada um de nós.

Emoção é comunidade 

Durante aqueles minutos em que o fumo sobe, milhões de pessoas partilham o mesmo  estado de espírito. Esperança, ansiedade e expectativa. Não há produto, nem call-to-action – só emoção partilhada. Isto é comunidade e é aqui que as marcas deviam estar a trabalhar. 

Quando o marketing deixa de ser apenas uma campanha e passa a ser uma conversa,  acontece magia. Criam-se comunidades. Um exemplo recente é o relançamento de  produtos nostálgicos no mercado, como a consola retro “The Spectrum”. Não é apenas um  produto; é uma experiência que traz à tona memórias e cria ligações entre gerações. É  marketing com alma! 

Como criar o "fumo branco" da sua marca? 

Se olharmos para o fumo do conclave como inspiração, fica claro que o segredo está na  autenticidade. Cada marca tem potencial para criar o seu próprio símbolo. Um som. Um  gesto. Uma cor. Algo que não precise de ser explicado, porque se sente. Mas para isso, é  preciso ter coragem para simplificar. Para rasgar o ruído. Para eliminar o supérfluo. Para  confiar na autenticidade. 

Não complique. Na verdade, quanto mais simples, melhor. O importante é que seja algo  verdadeiro, que ressoe com a sua audiência e que crie emoções. 

Porque, no fim, o segredo não está nos grandes orçamentos. Está nos pequenos rituais que  ficam. No detalhe que toca. Na história que não precisa de legendas. 

O fumo do conclave não vende nada. E, no entanto, move milhões. Isso devia dizer-nos  alguma coisa…