Não sabemos se este 45º presidente dos Estados Unidos da América teve tempo e vontade para ler as memórias dos seus antecessores, como por exemplo o fundador da nação, George Washington, que comentava algo como “as setas atiradas pelos meus adversários nunca chegam à parte mais vulnerável de mim”. O que vemos é que Trump se pica com as críticas, fica furibundo e, incapaz de se controlar, colérico, compulsivo, agarra o smartphone e metralha através do Twitter, em contra-ataques que passam pela maledicência, difamação e pelo insulto. São publicações que galvanizam fiéis do trumpismo mas que alarmam gente civilizada no partido que escolheu Trump – embora ainda não o questionem em terreno aberto.
Os 140 carateres de uma mensagem no Twitter tendem a não dar espaço para muita substância. Mas até podem conter informação útil e algum pensamento elaborado. A economia de palavras pode puxar para a beleza da poesia. Em Trump, o que há é sempre rudeza, pobreza lexical e um tom às vezes repugnante.
Na semana passada, resolveu fustigar os apresentadores do show matinal da MSNBC, Mika Brzezinski e Joe Scarborough. Durante a campanha eleitoral tinha-os elogiado pelo tempo de antena que lhe deram para entrevistas em direto. Agora, porque criticaram a conduta política do presidente, Mika passou a ser “uma louca” com “baixo coeficiente intelectual” e a Joe, chamou-lhe “psicopata”. Também há no misógino Trump um impulso mórbido para meter sangue nos ataques sexistas: em agosto passado, sugeriu que uma pergunta, que ele qualificou de “ridícula”, da repórter Megyn Kelly, da Fox News, surgiu porque a jornalista “estava menstruada”; agora, resolveu usar para o ataque a Mika Brzezinski, que em dezembro recusou receber num clube de férias na Florida, porque “ela sangrava com abundância”, na sequência de uma cirurgia estética facial. Alusões miseráveis, a que foi acrescentada a intriga de chantagem de revelação de segredos sobre a vida privada de Mika e Joe, par no ecrã, também na vida real. Responderam a Trump questionando o estado mental do presidente.
Trump vive em duelo contínuo com a televisão global CNN e com outros media que tratam as notícias. Talvez presuma que é engraçado ao aparecer como presidente-wrestler num medíocre vídeo-fake de 28 segundos que publicou neste domingo, em que aparece no ringue num simulado combate de catch a esmurrar e pôr KO um lutador cuja cabeça está encoberta pelo logótipo da CNN. Trump leva o desafio ao ponto de renomear a rede de televisão: passa-a a de CNN para FNN, em vez de Cable é “Fraud” News Network. Já lhe tinha chamado “Clinton News Network”.
Porquê tanto ódio? É um facto que o tom anti-Trump é dominante entre os comentadores da CNN e de outros media liberais de Washington e Nova Iorque. A atitude de Trump puxa a crítica. A prática do fact checking é uma obrigação dos jornalistas. Mas o presidente não suporta essa verificação dos factos que tantas vezes o desmente. “The Donald”, vive mergulhado na narrativa de que a imprensa liberal lidera uma conjura contra ele.
O atual presidente dos EUA revela incapacidade para tolerar pontos de vista diferentes dos dele. Mete-se no ringue a reagir de modo vulgar e muitas vezes grotesco aos que discordam. As mensagens que o presidente dos EUA coloca no Twitter são mais de ataque aos jornalistas do que sobre problemas políticos reais. Entre os que votaram nele há certamente muitos perturbados com o modo não presidencial de Trump e o modo como ele deforma a realidade.
Trump não é um político, é um homem de poder que não quer conhecer os limites do poder. A atitude deste presidente limita o diálogo em vez de o estimular.
Parece notório que o comportamento recorrente de Trump abre um labirinto de dúvidas sobre a sua aptidão para exercer em segurança para o mundo no posto mais poderoso no planeta.
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