Quem conduziu o ataque? Israel com a determinação de combater o programa nuclear dos aiatolas? Os EUA com a intenção de debilitar o apoio militar de Teerão a Moscovo para a guerra na Ucrânia? Uma aliança entre os interesses convergentes dos EUA e de Israel? Ainda uma outra hipótese: um novo instrumento para o movimento de protesto, desencadeado após a morte em 16 de setembro de Masha Amini, que tem como aspiração a liberdade e democracia?
Pode não ser coincidência o facto de há uma semana ter havido cimeira de chefes das secretas dos EUA e de Israel: o diretor da CIA, William Burns, esteve reunido em Jerusalem com o chefe da Mossad. Oficialmente, trataram a “estabilização da região”.
O ataque em Ispahan aconteceu uma semana depois.
Há imagens de uma explosão, às 23:30 deste sábado e a essa hora está registado nos sismógrafos um abalo telúrico de baixa intensidade, conforme ao quadro de rebentamento de explosivos. O local é o da relativamente secreta forma de armamento. O secretismo decorre da não revelação do que ali é produzido.
Sabe-se que o Irão dispõe de vários centros de pesquisa nuclear e uma central de conversão de urânio na região de Ispahan.
Também se sabe da localização de fábricas de armamento junto a esta cidade iraniana.
A reação de Teerão ao ataque na noite deste sábado é discreta, quase se resume ao anúncio de que destruiu os drones ofensivos – o que não parece corresponder à realidade, embora sem provas. É natural que o regime iraniano queira minimizar o ataque e os danos eventualmente sofridos.
Mas o facto de três drones com quatro rotores e armados para atacar terem podido aproximar-se, em modo não detetado por radares, de uma fortaleza como é um complexo de fábricas de armamento no Irão central, é revelador sobre a vulnerabilidade geral perante novos modos, simples, com recurso a drones, para conduzir ataques cirúrgicos a alvos específicos.
Este ataque, quando ainda permanece a dúvida sobre quem o desencadeou e sobre os danos causados, expõe como regime teocrático iraniano está exposto a ameaças externas e internas e no epicentro de vários conflitos, que vão da guerra na Ucrânia com o fornecimento à Rússia de grande número de drones, aos conflitos de influência regionais, passando pela vontade iraniana de se tornar potência nuclear e pelo levantamento de parte da população iraniana que reivindica democracia e liberdade.
O mistério sobre a origem dos drones sobre Ispahan mostra como o Irão é um alvo em alguma das guerras em fase secreta no Médio Oriente. Também mostra como os drones são um novo e ameaçador instrumento para ataques com origem misteriosa.
Tudo isto acontece quando o conflito israelo-palestiniano recrudesce com a maior tensão da última década e quando, ao 11º mês, a guerra na Ucrânia está em fase de alto desgaste. São tempos difíceis.
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