Quando em março de 2020 entrámos em confinamento, uma das lições que retirámos foi que o ensino à distância tinha aprofundado as desigualdades sociais. A falta de computadores e acesso à internet de muitos alunos e professores foi a ponta do iceberg que tornou claro que não estávamos preparados para o salto tecnológico que tivemos de dar à época.
Podíamos, então, lamentar a ausência de investimento na última década na Escola e no parque informático, entre muitas outras críticas legítimas que podiam ser feitas. Mas o momento inédito que vivíamos no início da pandemia em que pouco ou nada sabíamos do que estávamos para enfrentar fez com que refreássemos algumas dessas críticas. Porque, entretanto, professores, pais, alunos e autarquias improvisavam soluções uma vez que as orientações do Ministério da Educação escasseavam.
Ademais, a esmagadora maioria dos alunos acabou por só regressar à escola em meados de setembro, como se nada se tivesse passado, porque o Ministério programou o ano letivo, praticamente, como se não tivesse existido um hiato de 6 meses no processo de aprendizagem de milhares de alunos. Ao contrário de países nossos vizinhos, como é o caso de França, que procuraram apoiar os alunos, particularmente, os que tinham mais dificuldades, para um ano letivo que se previa atípico.
Da parte do Governo chegava a garantia do Primeiro-Ministro, António Costa, de que no início do ano letivo, em setembro, todos os alunos teriam computador. Esta promessa arrojada, uma vez que esta medida constava do Programa de Governo para concretizar até 2023, revelava a preocupação com novas vagas na pandemia e a eventual necessidade de recorrer ao ensino à distância uma vez mais.
Surpreendentemente, ou talvez não, em janeiro de 2021, com a necessidade de voltar a fechar as escolas, todo o País chega à conclusão de que estamos quase tão (im)preparados como no início da pandemia em matéria de Ensino à Distância e Escola Digital. Quase um ano depois do primeiro confinamento, foram distribuídos apenas 100 mil computadores, estando em falta 350 mil. Por altura do Natal, ainda nem sequer tinham sido encomendados.
Face à iminente constatação da incompetência do Ministério da Educação, e tendo o Governo anunciado o encerramento das escolas, foram decretadas férias letivas, apenas 3 semanas depois do início do 2.º período. E o Ministro da Educação ainda ensaiou uma proibição de todas as escolas, leia-se, as do ensino privado e cooperativo, terem qualquer tipo de atividades letivas. Aqui está um dos melhores exemplos do que é nivelar por baixo e do que é a consagração da bitola da mediocridade.
Agora, e sendo inevitável face à evolução da pandemia a manutenção do encerramento das escolas, está o Ministério da Educação a improvisar uma solução. Lamentavelmente, continuam a faltar computadores e Internet para a esmagadora maioria dos alunos e professores.
Mas, a falta de planeamento e competência não é um exclusivo do Ministério da Educação. A um mês do início das inscrições para os exames nacionais, o acesso ao Ensino Superior continua a ser uma incógnita. Que exames serão necessários ou quais serão as regras de acesso são questões que o Governo ainda não respondeu nem clarificou. Enquanto isso, milhares de alunos continuam sem saber as regras com que devem contar num dos anos mais decisivos da sua vida.
Pior do que estar sempre a correr atrás do prejuízo é o facto de o Ministro da Educação não perceber que o prejuízo é mesmo ele.
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