Ano após ano temos visto o medo a bater à porta, e a ignorância a deixar entrar. Há muito poucos que ganham com isto, e ganham muito, enquanto muitos ganham pouco, mas a achar que é muito e sem se aperceberem que é praticamente nada.
No Brasil, a corrupção está profunda e confortavelmente instalada por todo o lado, enquanto o novo presidente é um homem cheio de humanidade que diz coisas às mulheres como “és tão feia que nem mereces ser violada”, que diz que ninguém gosta de homossexuais e que, curiosamente, ainda não parou de cortar na educação.
Nos EUA é o que sabemos, como aquela criança ego maníaca a brincar com os botões do mundo, a alimentar divisões e ódios raciais, com promessas de postos de trabalho que não se veem, e de uma felicidade para todos que nem miragem é. E entra em choque com a China, agora com o Irão, que por sua vez se alia à Rússia, que por sua vez também é governada por uma mal disfarçada ditadura apoiada na oligarquia que continua a esmagar o povo.
No Sudão está a decorrer um massacre, com pelo menos 100 mortes registadas e mais de 500 pessoas feridas. Em Hong Kong, mais de um milhão de pessoas protestam nas ruas contra o governo. Em Londres, enquanto um casal de lésbicas é espancado pelo crime de amar, ninguém sabe bem se saem mesmo ou se ficam. Em França, Itália ou Hungria, a islamofobia aumenta quase tão rapidamente quanto cresce o número de refugiados que morrem afogados num mar de abandono enquanto tentam fugir de uma guerra que não pediram.
Em Portugal, os do costume – como por exemplo Salgado, Sócrates ou Berardo, continuam a dar baile a todos os outros. Enquanto estes outros são severamente punidos pelo Estado por falharem um pagamento da Segurança Social ou entregarem o IRS fora do prazo, os tais do costume põe e dispõem do país e do dinheiro de todos com a impunidade de quem está acima da merda comum. Por falar em merda, também por cá já morreram pelo menos 12 mulheres só este ano por violência de género. E mesmo perante isto, enquanto uns tentam alertar para a importância vital da igualdade de género, cérebros brilhantes encalhados em séculos passados continuam preocupados com o papão da “ideologia de género desses marxistas culturais”, queira lá isso dizer o que for.
Mas calma, se calhar não vale a pena ficar assim tão deprimido. É que enquanto tudo isto acontece, a Terra está a entrar em colapso. Por isso, e se as piores previsões se concretizarem, em breve não teremos que nos preocupar com qualquer corrupção, fome, violência de género, homofobia, guerras, refugiados, religiões ou bancos. Vai ser só pó. Tudo pó.
Vou beber uma cerveja ao sol enquanto ainda dá.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Years and Years : Série incrível para verem na HBO.
- Feira do Livro de Lisboa: ainda está a decorrer, arranquem [termina este domingo, 16].
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