Cansam-me duas coisas que todos reconhecemos, criticamos e para as quais colaboramos: a futilidade e ausência de profundidade dos chamados temas da silly season (que se estende cada vez até mais tarde - ou que nunca chega a terminar...); e a tendência dos meios de comunicação social em usarem sites de redes sociais como fontes de informação enquanto despejam para a rede notícias, ou conteúdo polémico, para lhes garantir cliques, visualizações, associada à estratégia, já estafada, "falem bem, ou falem mal, mas falem de mim".
A introdução, já longa, aplica-se a vários exemplos. De forma direta, estou a reportar-me ao caso dos livros da Porto Editora, a velha não questão transformada em algo que é mais do que aquilo que parece. O problema não são os livros, ou os exercícios, de cada um deles mas a assunção (tão estafada quanto a estratégia que referi acima) de que as meninas são de Vénus e os meninos de Marte, que eles se vestem de azul e elas de cor-de-rosa. A culpa, como no desenrolar da tal estratégia, também é nossa, e não é por vestirmos uma menina de rosa ou um menino de azul, mas por assumirmos, por definição, que à mulher cabem determinadas tarefas (que também podem ser desempenhadas por um homem), que a um homem fica mal ou que uma mulher não deve ocupar-se com determinadas tarefas. O exemplo do fraldário do pediatra Mário Cordeiro é disso um excelente exemplo.
Se é certo que há características físicas, decorrentes das diferenças biológicas que separam os dois géneros, também é verdade que a maior parte das afirmações que fazemos decorre de ideias pré-concebidas, associadas a um preconceito social que nos mina da cabeça aos pés.
Há estudos, livros, teses, ensaios e artigos científicos mais do que suficientes para explicar, comprovando (e justificando) pela biologia, as diferenças entre homens e mulheres, bem como as suas implicações comportamentais. Só quem prefere insistir em discutir temas da silly season pode encontrar argumentos que justifiquem perdermos tempo com estas coisas quando Pyongyang ou as agora famosas Irma, Katia ou mesmo o José, podem tocar-nos à porta.
Se os livros eram bons ou maus, não sei. Não cheguei a tempo de os folhear. Mas sei que vamos a tempo de pensar em discutir os temas quentes e nada silly cá do burgo, enquanto deitamos o olho ao que se passa no mundo, não vá este rebentar-nos nas mãos...
Paula Cordeiro é Professora Universitária de rádio e meios digitais, e autora do Urbanista, um magazine digital dedicado a dois temas: preconceito social e amor-próprio. É também o primeiro embaixador em língua Portuguesa do Body Image Movement, um movimento de valorização da mulher e da relação com o seu corpo.
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