Ao longo dos últimos meses, a Paula Cosme Pinto e eu conversámos com um conjunto alargado de mulheres. O objectivo foi cumprido ontem com a emissão do primeiro episódio do podcast Um género de conversa aqui mesmo no SAPO24.
O objectivo maior era reunir mulheres interessantes em áreas diversas e comprovar que faz falta um lugar de fala feminino.
Há muitos anos que oiço que não existem mulheres com quem se possa falar, que não querem, não gostam, não lhes apetece participar, intervir, discutir. Não é verdade. As mulheres estão cansadas do escrutínio da imagem, da cena do “viram o casaco? “O vestido com não sei quê?” “A maquilhagem que não a favorece”. “Ah, está tão envelhecida”. Podia acrescentar outras pérolas, mas já ficaram com uma boa ideia do que estou a falar. As mulheres estão fartas disso e com toda a razão.
Sendo a rádio uma paixão antiga, a verdade é que acredito que conseguimos ter conversas desempoeiradas, verdadeiras, surpreendentes por não termos a dimensão visual. Num estúdio de som, protegidas de tudo e todos, conseguimos criar uma atmosfera familiar, de à-vontade.
Rimos e comovemo-nos. Voltámos a confirmar que a identificação é possível, que temos os mesmos medos e alegrias, as mesmas dúvidas. Todas nós somos condicionadas pelo corpo. Pela educação. Pela sociedade. E todas batalhamos para sermos mais, para termos espaço, para atingir a paridade. Vencemos preconceitos, questionamos e queremos saber mais.
A aventura começou num almoço, a ideia da Paula era antiga e decidimos que era hora. Temos uma pasta com nomes de mulheres das mais variadas áreas — se precisarem, por favor digam — e muitas mais para conversar. Temos mulheres da música, da representação, da política, do activismo, do corporate, do jornalismo, da justiça, da economia e por aí adiante.
Quando me perguntaram por que carga de água é que não temos homens a ser entrevistados, respondi: os homens têm espaço de intervenção, não precisam de nós. Mas precisamos de ouvintes, claro. Oiçam estas mulheres. Elas fazem toda a diferença. E merecem ser ouvidas por todos.
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