Política. Aquela palavra que nos passou ao lado a maior parte do tempo em que fomos jovens. Nem sei bem se pela falta de informação acerca do tema, que foi sempre característica do nosso percurso académico, ou se pela imaturidade de jovens que têm outras preocupações, e uma falta de sentido de responsabilidade enquanto cidadãos.
Mas houve aqui um momento em que se fez luz. Em novembro do ano passado, com todo o alarido em torno das eleições presidenciais dos EUA, começámos a refletir naquilo que se passava mesmo à nossa frente: porque é que os portugueses não demonstram o mesmo nível de interesse pelas questões políticas do próprio país? Se tanto foi partilhado sobre a importância de votar nas eleições norte-americanas, então porque não há de ser feito o mesmo relativamente às presidenciais portuguesas? Que geração é esta a nossa que parece indiferente ao que a rodeia?
A partir do momento em que, nas últimas eleições, mais de metade dos portugueses escolheram não votar (taxa de abstenção de 51,3%), a nossa ação tornou-se obviamente necessária. Foi aí que nos unimos para dar voz a este movimento. Treze jovens, entre os 19 e os 25 anos, estudantes e trabalhadores, com formação em áreas completamente diferentes, mas com uma causa comum e bem concreta: apelar ao voto consciente de uma forma dinâmica, imparcial e sintetizada. Cada um com as suas convicções políticas, que são deixadas de parte para dar visibilidade à informação que existe mas que não chega a todos como deveria. Partilhando posts e respondendo a questões que os nossos seguidores vão fazendo, para ir de encontro àquilo que são as suas necessidades, dando oportunidade para que cada um construa a sua opinião política.
Descomplicar é a nossa palavra-chave em tudo aquilo que publicamos. Um serviço público que permite que cada um se torne um cidadão mais responsável e ativo na sociedade. Daí surge o nome dado ao nosso movimento: “Cresce e Aparece”. Apesar de apresentarmos conteúdo com um design jovial e partilharmos a nossa mensagem nas redes sociais - Instagram (@cresce.aparece) e Facebook -, a nossa intenção é alcançar o maior número de portugueses possível, independentemente da faixa etária. Queremos com este nome reforçar a ideia de que é necessário que os indivíduos se cheguem à frente e demonstrem a maturidade exigida e presumida de um cidadão com a capacidade e direito ao voto. Para além de que, qualquer que seja a idade, há sempre oportunidade para aprofundar mais sobre a política, transversal a todos os cidadãos.
O nosso propósito é bastante concreto - que entendam que votar é um direito, mas também um dever de cidadania. Pretendemos transmitir e reforçar que o votar branco ou nulo é, politicamente, tanto ou mais significativo do que um voto num candidato ou partido. E que percebam que nada tem a ver com a abstenção, que demonstra apenas um desinteresse profundo por aquilo que se passa à nossa volta. Cada um de nós tem o poder de influenciar o rumo do nosso país, e o voto é o meio que temos para expressar as nossas convicções e não devemos abster-nos e deixar que os outros decidam por nós. Se todos acharmos que “não vale a pena porque não vai mudar nada”, aí é que tudo permanece igual. Toda a nossa existência implica política e, como tal, devemos tomar uma posição e não deixar que os outros decidam por nós.
Ao longo destes dois meses, tem sido um grande desafio gerir todo o trabalho que está por detrás da página, que implica a coordenação de várias equipas que estão em constante comunicação entre si. Mas, acima de tudo, é uma satisfação enorme sentir que nos superamos a cada dia, não só enquanto projeto – cada vez mais exigente dadas as dimensões a que chegou -, mas também enquanto pessoas. Não só por estarmos a poucos dias das eleições e nos sentirmos mais seguros quanto à nossa posição em relação às mesmas, mas também por nos darmos conta que de facto fizemos e continuamos a fazer a diferença no discernimento das pessoas.
Envolver qualquer cidadão nesta temática evidentemente que não termina no dia 24 de janeiro. É um processo moroso e que exige um grande investimento, uma vez que se trata de mudar comportamentos. A continuidade deste projeto é um desejo da nossa parte, mas a verdade é que, apesar da adesão ter sido bastante desde que as eleições começaram a ser tema 24h por dia nos media, ainda falta alguma consciencialização e empenho em grande parte da população. E para isso, é exigido um esforço mais global do que o de 13 jovens que se juntaram para dar voz a uma causa como esta. Mas não baixemos os braços, porque, afinal, diferença já fizemos e continuaremos a fazer.
Enquanto existirmos, lutaremos por ser a geração diferente quanto à indiferença!
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