A questão é pertinente, que não haja dúvida. Mas também é tão pertinente quanto complexa, e duvido muito que se chegue rapidamente a uma conclusão lúcida sobre o tema, mesmo que se esteja a escrever em CAPS LOCK no Twitter com a irritação a rebentar-nos as artérias.
Por um lado, há quem defenda que a solução é o desprezo total. Não referir nunca Aquele Facho Cujo Nome Não Se Deve Pronunciar o seu partido, ou os seus apoiantes, em circunstância alguma, seja por jornalistas ou carismáticos e eloquentes comentadores de redes sociais que todos somos.
Não me parece boa ideia. Sabemos bem que a melhor estratégia para conquistar alguém romanticamente é precisamente o fingido desprezo. Pelo menos quando andamos na secundária. Damos um pouco de atenção, para logo nos remetermos ao mais completo desprezo, e a outra pessoa acabará por vir atrás. Perdoem-me se não quero ter AFCNNSDP aos pés, a entregar-me um bilhetinho que em vez de dizer “Queres namorar comigo?”, diz “A culpa é toda dos ciganos?”, e com os quadradinhos “Sim”, “Sim” e “Sim” para escolhermos a resposta.
Por outro lado, também percebo que estar constantemente a falar dele e com um excessivo alarmismo (mesmo que até haja motivo para isso, olhando para todos os restantes casos europeus) possa não ser a melhor estratégia. Não que mais pessoas se tornem racistas só porque se está a dizer que AFCNNSDP é racista, elas já eram, só ganham coragem para o ser em público.
Mas uma coisa que creio ser realmente importante que se fale é como o partido em questão almeja destruir, por exemplo, a educação e saúde públicas. Já que quem apoia este partido não se importa minimamente que o seu líder defenda numa tese de doutoramento diametralmente oposta ao que agora defende, nem que falsifique assinaturas, nem que propague notícias falsas.
Pelo menos podiam tentar imaginar o que seria a sua vida quando a única opção de cuidados médicos e escolarização fossem privados e não tivessem dinheiro para isso. Imaginem lá. Estão a fazê-lo? Vão ao hospital com o vosso filho que partiu o pé a jogar à bola na rua (num dia de semana porque não têm dinheiro para lhe pagar um colégio) e quando chega a conta é 1.000€. Duvido muito que a culpa fosse dos ciganos.
Enfim, se nenhuma das estratégias resultar, a extrema-direita vai mesmo regressar com cada vez mais força. E quando isso acontecer, acontece para todos — mesmo para os que isso queriam sem darem bem conta do que faziam.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Jojo Rabbit: É provavelmente dos filmes mais bonitos que vi na vida. Vão imediatamente ver.
- Veep: Sim, eu sei, como é que só comecei a ver agora? O que importa é que comecei e recomendo.
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