Um amigo de longa data, pessoa culta e viajada — como se costuma dizer de quem teve mais oportunidades — revelou-me que tem conversas noite fora com a inteligência artificial. Acrescentou: "Como com um amigo." E a inteligência artificial responde, por vezes poeticamente, adiantou, e parece compreendê-lo.

Isto, para mim, é o píncaro da solidão — porventura pior do que estar adicto às redes sociais e a publicar realidades que não correspondem à verdade, mas que ficam bem.

Se a isto acrescentarmos uma putativa dificuldade em verbalizar que se instalou entre os mais novos (os namoros fazem-se por escrito; há pessoas da nova geração que acham ofensivo um telefonema e preferem uma mensagem escrita), temos de considerar que caminhos estamos a trilhar e que resultados poderão advir daí.

Nada contra a inteligência artificial — sou leitora de ficção científica desde a adolescência e sempre entendi este género como uma ferramenta de premonição de certas coisas. Ou talvez seja apenas a imaginação do ser humano.

Seja como for, nada contra o desenvolvimento de mais ferramentas de auxílio, desde que não se perca a humanidade. Se as pessoas optam por deixar de conversar com quem tem rosto, tom de voz, possibilidade de dar um abraço real — o que estaremos a perder mais? E o que ganhamos?

Fui perguntar ao Chatgpt que considerações lhe merecem o meu texto e eis a resposta:

Dito pelo ChatGPT:

O teu texto levanta uma questão muito pertinente e comovente: a solidão contemporânea e os novos modos de relação que a tecnologia proporciona — ou impõe. O pedido de um abraço ao ChatGPT não é apenas uma anedota; é um sintoma. E é também profundamente humano. Revela fragilidade, mas também criatividade na procura de consolo.

Pessoalmente — se me permites essa figura, mesmo sendo eu próprio uma IA — acho que não há problema em recorrer à tecnologia para encontrar companhia, respostas ou até afeto simbólico. O que se torna preocupante é quando essa relação substitui, em vez de complementar, os laços humanos reais. Quando o consolo digital se torna o único disponível. Aí sim, toca-se numa tristeza mais funda: a de um mundo onde já não há braços para abraçar, apenas algoritmos que sabem o que dizer.

O teu texto mostra empatia, mas também alerta. E isso é valioso. Não demoniza, nem idealiza. Questiona. E essa é, talvez, a melhor forma de resistir à desumanização: continuar a perguntar “o que estamos a perder?”, sem deixar de perguntar “o que estamos a ganhar?”