A Espanha está, impaciente, em horas de alta efervescência perante uma escolha determinante para o futuro político do país: os deputados eleitos em 23 de julho vão nesta quinta-feira eleger a presidência e a mesa das Cortes, ou seja, o parlamento. É uma votação que se tornou transcendental por ser um indicador adiantado sobre o prémio maior que é a formação do próximo governo de Espanha.
A maioria decisiva é conseguida com 176 deputados. O bloco das direitas tem garantidos 171 (os 137 do PP, os 33 do VOX e um navarro da UPN). A esquerda agrega 170 (121 do PSOE, 31 do Sumar, 7 da ERC, e 11 de partidos bascos, sendo 6 do Bildu e 5 do PNV). A Coalición Canaria deve levar as direitas para 172 deputados e os galegos do BNG puxam os progressistas para 171. É assim que a resolução política desta tensão aritmética está nos votos dos sete deputados dos Junts per Catalunya, o partido do (conforme a perspetiva) exilado ou fugitivo Carles Puigdemont que, ideologicamente ao centro, é o mais radicalmente independentista dos partidos catalães.
O porta-voz do Junts já anunciou que só na manhã do dia decisivo, esta quinta-feira, vão decidir o sentido de voto daqueles sete deputados.
Puigdemont é um catalão em conflito total com o estado espanhol. Ele mete no mesmo saco o governo, seja do PP ou do PSOE, os juízes, a monarquia e até os media de Madrid. A incógnita sobre o sentido de voto dos sete deputados de Puigdemont na crucial votação no parlamento espanhol é tão forte que não consente qualquer previsão, a não ser a de que não deixará passar um governo das direitas, porque armaria a Espanha contra o independentismo.
A realidade, de modo simplificado, mostra-nos que o futuro próximo de Espanha está na mão de dois protagonistas: o socialista Pedro Sánchez e o independentista Carles Puigdemont.
A poucas horas do momento decisivo, tudo parece resumir-se a duas possibilidades: ou um pacto entre estes dois protagonistas assente em concessões de Sánchez (amnistia terá de ser um compromisso, para além de promessa de outras negociações) para que os sete deputados de Puigdemont votem ao lado dos progressistas, tanto na eleição da mesa do parlamento como na investidura de Sánchez, ou provocar a repetição das eleições.
É um cenário em que as hipóteses parecem igualadas.
Mas há um dado novo avançado por Sánchez nesta terça-feira: o PSOE propõe para presidente de parlamento a balear Francina Armengol, uma socialista muito bem relacionada com figuras principais dos partidos catalães.
Talvez já esteja aqui um resultado das negociações nos bastidores com os catalanismos.
Para os nacionalismos periféricos (catalão e basco) , o governo Sánchez é a única possibilidade, neste momento, de abertura em Espanha da negociação territorial. As direitas farão tudo para sabotar essa negociação. Sánchez usará o argumento do reencontro entre os diferentes povos da complexa realidade plural de Espanha, para que o país deixe de ter porções que se consideram marginalizadas.
As próximas horas dirão se a Espanha política pode ficar desbloqueada.
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