As turmas estão organizadas, os horários afixados. “Tenho tarde livre à quinta-feira”, também é o único dia que o explicador pode marcar uma hora. A melhor amiga foi para outra escola. A natação e a aula de dança têm de se encaixar algures na semana. No próximo sábado é o aniversário do amigo.
Por esta altura, o ano letivo já arrancou para todos os alunos do país e, para quem transitou de ciclo, trouxe alterações significativas. Há uma harmonia que tem tanto de bonita como de assustadora entre as mudanças socio emocionais e físicas vividas na adolescência e as mudanças simultâneas do percurso escolar, como se de uma partida cósmica se tratasse.
Crescer não é fácil, quando menos se espera algo muda. O corpo, a família, os amigos, o contexto.
Segundo o dicionário da Língua Portuguesa, Adolescer – “tornar-se adolescente, entrar na adolescência” - vem do latim “adolescĕre” e significa crescer. Esta metamorfose traz consigo perguntas, emoções intensas, responsabilidades e, às vezes, uma volátil e contraditória vontade de parar o tempo e não crescer e simultaneamente querer mais.
É natural experienciar-se maiores níveis de ansiedade com o início do ano letivo. Qualquer mudança é desconfortável e, após as férias de verão é importante entrar devagar na rotina, organizar o horário escolar, as atividades extracurriculares e os tempos livres de forma a suavizar o recomeço.
Com a entrada numa escola ou ciclo de ensino novos, as famílias devem estar abertas a quaisquer questões colocadas por parte dos mais novos. É normal crianças que transitam do ensino primário para o 2º ciclo, tenham dúvidas sobre agendamento de testes e apresentações de trabalhos e adolescentes a ingressar no ensino secundário se deparem com dúvidas sobre a escolha de curso acertada ou se sintam assoberbados com as exigências escolares e as solicitações sociais: novos colegas, novos grupos sociais…
O papel das famílias passa por atentar a quaisquer alterações de comportamento das crianças e adolescentes que iniciam uma nova etapa e facilitar a adaptação – alterações no apetite e sono, falta de motivação para atividades outrora prazerosas, irritabilidade, dores de cabeça ou de barriga e isolamento social são alguns dos sinais de que a ansiedade poderá estar a tomar conta dos mais jovens e de que é necessário agir para diminuir o seu impacto.
Por um lado, a família deve mostrar-se disponível para ouvir, compreender, receber e aceitar as dúvidas e emoções iniciais sem julgar ou antecipar soluções. É importante assegurar apoio e empatizar caso a adaptação a um novo contexto esteja a gerar desconforto e o jovem o demonstrar – quer ao fechar-se sobre si próprio, quer ao manifestar necessidade de se expressar.
Por outro lado, deve auxiliar na gestão de expectativas dando espaço ao adolescente para encontrar soluções aos novos desafios; não pressionar para os resultados, mas orientar para o processo de aprendizagem: elogie o esforço, defina rotinas, demonstre interesse nos assuntos relacionados com a escola.
Não menos importante, permita e incentive a socialização. Na adolescência devemos praticar o equilíbrio entre as responsabilidades e os momentos de lazer. Os adolescentes não devem ser impedidos de estar com os amigos, ir a festas de aniversário, praticar um desporto ou passear. Ao participarem nestas atividades, estão a desenvolver competências socio emocionais, relações saudáveis e ferramentas úteis para os desafios dos outros contextos da vida como a escola e a família.
Esta semana começou mais um ano letivo para muitos adolescentes portugueses, cabe às famílias facilitar a adaptação e o equilíbrio que os adolescentes precisam para se sentirem confiantes e capazes neste processo de crescimento. Bom ano letivo a todos!
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