Ser pai é assumir múltiplos papéis em simultâneo: CEO, gestor de crises, responsável pelo  serviço ao cliente e especialista em retenção de “clientes exigentes” (também conhecidos  como filhos). E se há algo que aprendi nos últimos anos, é que as regras do marketing se  aplicam tão bem a clientes, como a crianças. 

Convencer uma criança de 2 anos a lavar os dentes? É como recuperar um carrinho de  compras abandonado. Criar campanhas virais? Nada comparado a explicar que os legumes  não são inimigos, mas sim "comida de super-herói!". 

Aqui ficam cinco lições que os meus filhos me ensinaram sobre como gerir expectativas,  adaptar estratégias e, acima de tudo, criar experiências memoráveis, seja em casa ou no  trabalho. 

Lição nº 1: Conhecer a audiência é meio caminho andado 

No Marketing, criamos personas (perfis fictícios que representam o público-alvo) para  definir estratégias eficazes. Em casa, descobri que cada filho tem a sua “persona” única. O  Vasco, fascinado por números, só colabora se transformar tarefas em desafios  matemáticos ("Se escovares os dentes duas vezes por dia, quantas escovagens fazes num  ano?"). Já o Vicente, que vive para a bola, só aceita regras se forem apresentadas como  “treinos de campeão”. 

A personalização é essencial. Tal como adaptamos campanhas ao público-alvo, em casa  ajustamos o discurso às crianças – mesmo que isso implique vender sopa como  "combustível para futebolistas". 

Lição nº 2: A gamificação é a melhor aliada (e o Super Mario também) 

Quem tem filhos sabe que os sermões têm o mesmo impacto numa criança que um anúncio  do YouTube: assim que possível, carregamos no botão “ignorar”. A solução? Gamificação

Em casa, as tarefas diárias são equiparadas a "níveis de jogo": arrumar brinquedos dá 10  pontos e lavar os dentes sem reclamar garante um “power-up” (direito a uma história extra  à noite). Até o Super Mario entrou na jogada – afinal, nada motiva mais do que fingir que as  cáries são "Goombas" a atacar.

No fundo, envolver os miúdos no processo é meio caminho andado para o sucesso. O  mesmo se aplica ao marketing: quanto mais envolvente e impactante, melhor será o  engagement

Lição nº3: Criar experiências (e não apenas listar benefícios) faz toda a diferença 

No e-commerce, vender um produto não se resume apenas a destacar características do  mesmo. Trata-se de criar uma experiência. E como pai, percebi que esta estratégia  funciona igualmente bem com as crianças. 

Se para o Vicente o garfo se transforma num avião supersónico que precisa de “aterrar com  sucesso” na sua boca, para o Vasco qualquer tarefa aborrecida pode virar uma missão  especial. Esta arte de contar histórias transforma o banal em memorável – uma técnica  usada tanto no marketing, como na parentalidade. 

Lição nº4: Proporcionar momentos de ligação é o melhor investimento 

No trabalho, a fidelização de clientes é um dos principais objetivos de qualquer estratégia  de marketing. Em casa, esta ideia traduz-se em criar memórias e laços fortes com os nossos  filhos. No meu caso, isso traduz-se em domingos a construir puzzles com o mais velho ou a  fingir ser guarda-redes das balizas imaginárias do mais novo. 

Tal como no marketing, estas pequenas ações reforçam a ligação e criam uma base sólida  para o futuro. 

Lição nº 5: Esteja preparado para o inesperado (e abrace o caos!) 

A verdade é que nenhuma estratégia sobrevive ao primeiro contacto com a realidade. Isto  aplica-se tanto a campanhas de marketing, como a planos parentais. 

Há dias em que tudo parece correr bem… até o Vicente decidir que não quer dormir a sesta  ou o Vasco começar a questionar como é que a Nintendo calcula os pontos do Mario Kart.  A solução? Adaptabilidade

A lição aqui é simples: é essencial ser flexível e ajustar os planos conforme o momento. O  caos não é o inimigo, mas sim uma oportunidade para exercitar a criatividade e encontrar  soluções. 

O algoritmo da parentalidade 

Ser Pai é, provavelmente, a campanha mais desafiadora e recompensadora que existe.  Requer ajustes constantes, testes A/B (experimentar abordagens até descobrir a que  funciona melhor) e a aceitação de que, às vezes, o “algoritmo” da parentalidade falha. E está  tudo bem!

Porque, no fim, o que fica são as boas memórias, os momentos em que transformamos  rotinas em aventuras, birras em lições e legumes em superpoderes. 

PS: Vasco e Vicente, se um dia lerem isto: sim, o pai dá muitas ordens, é exigente e, com a  mãe, gere a casa como se fosse uma loja online em plena Black Friday. Mas a verdade é que  sou um pai babado e tenho um orgulho gigante em vocês! Prometo que a próxima  “campanha” inclui mais tempo na Nintendo… e, talvez, um upgrade no orçamento para as gomas (mediante bom comportamento e aprovação da “Administração”, ou seja, da mãe).