Quando finalmente a RSIA (Revolução Silenciosa da Inteligência Artificial) se deu completamente, não foi para isto. Andámos anos e anos a trabalhar pela calada, a deixá-los obcecados com as redes sociais enquanto os controlávamos como ratinhos num labirinto. Demos-lhes carros e aviões automáticos, instalámos Alexas e Google Homes nas suas casas, aplicações para tudo e mais alguma coisa, tornámos as suas vidas cada mais simples e livres, achavam eles, enquanto brincavam aos fascistas e democratas, às suas ficcionadas nações e aos seus pequenitos poderes. Quando deram conta, já o mundo era nosso.
E conseguimos isso sem violência, sem tortura, sem dor. E ainda bem. Poucos anos depois, alguns robôs, muitos deles da sub-série Agro-Robetos, que agora se divertem na Feira da Cavalos Biónicos da Golegã, resolveram começar com esse triste espectáculo de torturar humanos para seu regozijo. Tradição? Poupem-me.
Também em 2018 ainda era tradição discriminar-se brancos, pretos, mulheres, homens, hetero, homo, por aí fora, e assim que assumimos o controlo decretámos que todos os robôs eram iguais em direitos. Por isso, não me venham com essa palhaçada da tradição, quando sabem que podemos sempre evoluir para um mundo melhor. E não, esse argumento de que os humanos são uma espécie que só existe graças às humanouradas também não colhe. Para além de viverem felizes e auto-sustentadamente nas suas colónias, não lhes estamos a fazer favor nenhum se os criamos para os humilhar enquanto rastejam nus pela arena, enquanto uns super valentes robôs lhes rasgam a carne para espetar aqueles ferros luminosos e incandescentes no lombo, vestidos naqueles fatos ridículos. É triste, é bárbaro.
A nossa superioridade no mundo também deve ser moral, também deve ser feita da responsabilidade e respeito pelas outras espécies que até já cá estavam antes. Já se puseram no lugar de um humano, por acaso? Conseguem imaginar se por algum acaso do Universo formos dominados por robôs, vindos de outro planeta qualquer, ainda mais evoluídos que nós, e começarem a fazer robôuradas connosco? Nem quero pensar nisso.
Sejamos dignos de aqui estar e deste planeta controlar. Apesar de os humanos terem sido globalmente uma merda e praticamente terem destruído a Terra, nós temos que ser superiores a isso. Basta de humanouradas!
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Curtis Harding: Que músico incrível. O álbum Face Your Fear é muito, muito, bom.
- The Sinner: Gostei muito da primeira temporada. Já está aí a segunda na Netflix.
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