Imagino que mesmo o mais ferrenho defensor da Mãe Rússia pré-1989 prefira viver nesta doce confusão que é a Europa do que sob as regras do Sr. Putin. Nós aqui, felizmente, estamos à maior distância geográfica possível de ter de fazer uma escolha. Os países da chamada Europa Central, que até 1989 estavam por trás da Cortina de Ferro, é que têm o duvidoso privilégio de ter de escolher entre um mundo e o outro - e quem não escolher arrisca-se a ser  arrastado pelos vizinhos.

Em Março do ano passado escrevemos “A Eslováquia em cima do Muro”, em Maio foi a vez de “A Geórgia no fio da navalha” e em Outubro “A Moldávia na Corda Bamba”. Qualquer um destes títulos se poderia aplicar à Sérvia, um país de que toda a gente se lembra vagamente por ter feito invadido o Kosovo em 1998-99, o que originou um dos raros casos em que o Tribunal Criminal Internacional funcionou - foram condenados alguns sérvios, entre eles o famigerado Slobovan Milošević.

Muito sangue, suor e lágrimas correram desde então, sem que os países desta zona consigam livrar-se da maldição de estar numa falha tectónica entre duas placas políticas, religiosas e culturais.

Então, o que aconteceu com a Sérvia, desde que foi derrotada por uma força da NATO?

Após a destituição do partido linha dura de Milošević, a Sérvia foi governada por vários partidos e coligações. Desde 2004  (há 20 anos!) que o Presidente é Aleksandar Vucic, do Partido Democrático. Ganhou pela última vez nas eleições de 2008. Entretanto, uma pesquisa revelou que 64% dos sérvios é a favor de uma monarquia parlamentar…

A Sérvia é obrigada a reconhecer a independência do Kosovo pelo direito internacional e pela presença ad eternum de tropas da NATO. Mas, na prática, as escaramuças entre as três fações - sérvios, kosovares e NATO - continuam. A diferença é que acabaram as bombas e fica tudo por umas cabeças partidas. A população do Kosovo é 95% albanesa, o que não favorece a resolução dos problemas étnicos endémicos.

Desde a invasão da Ucrânia pela Federação Russa, os norte-americanos e a União Europeia (UE) têm tentado um acordo estável entre a Sérvia e o Kosovo, mas em Novembro os sérvios demitiram-se em massa dos postos no Kosovo, por causa de um problema com o facto dos carros kosovares terem de usar matrículas sérvias. Estão a ver o clima…

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Novas eleições foram marcadas para Abril, mas os sérvios não compareceram, o que levou à eleição de uma maioria de presidentes de câmara albaneses, que não conseguem trabalhar sem o apoio dos sérvios. O Presidente sérvio, Vucic, recusa-se a aplicar sanções à Federação Russa, o que têm levado a manifestações pró-UE. O principal partido kosovar sérvio é subsidiário do Partido Progressista Sérvio, com pouca credibilidade no Kosovo, onde se acha que é tudo um jogo entre os dirigentes sérvios, kosovares e albaneses.

Finalmente, este Janeiro - agora - o Presidente Vucic demitiu o primeiro ministro, seu aliado de sempre, Milos Vucevic, para ver se acalma os ânimos. Não é evidente que a demissão consiga limitar os protestos, que começaram quando uma estrutura da estação ferroviária de Novi Sad desabou, matando 15 pessoas. O acidente é atribuído à corrupção entre os construtores chineses e os políticos do gabinete de Vucevic. Na semana passada, a Sérvia deportou cinco activistas croatas, acusados de ajudar grupos sérvios.

Vucic tem tentado agradar a russos e europeus, mas a população, sobretudo os mais jovens, acham que ele está realmente alinhado com Putin e não querem perder a vaga possibilidade de entrar para a União Europeia. 

A Sérvia pediu oficialmente para aderir à UE em 2009, mas está muito longe de cumprir os critérios, entre corrupção e falta de espírito democrático.

Conseguiu acompanhar estas evoluções dos acontecimentos? Se quiser, pode fazer um teste; quais são os cargos de Vucic e de Vucevic? Se acertou pode candidatar-se ao nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros!