Imediatamente depois da derrota dos nazis, em 1945, os europeus e americanos perceberam que tinham pela frente um novo adversário, a União Soviética.
Os factos podem ser descritos sucintamente. Na conferência de Yalta, em Fevereiro de 1945, os países que já sabiam que iam vencer a Alemanha (que se renderia em Maio), os Estados Unidos, representados por Franklin D. Roosevelt, o Reino Unido, na pessoa de Winston Churchill, e a União Soviética, presente com Joseph Estaline, decidiram o que iria acontecer em seguida à Europa e, implicitamente, ao Mundo. Houve também uma conversa privada entre Churchill e Estaline, que ficou para a História com o nome de “acordo infame”.
Entre outras decisões, como a divisão da Alemanha em três zonas (mais uma pequenina para os franceses), as indemnizações que o país pagaria pela destruição infligida durante a guerra, a mais importante foi a divisão da Europa em duas esferas de influência, a Ocidental e a Socialista. Além da falta de ética inerente a três países decidirem de antemão o futuro de muitos outros, o acordo resultou em acções violentas em todos eles, nomeadamente o massacre dos comunistas na Grécia (que ficava do lado “de cá”) e dos nacionalistas nas outras (que ficassem do lado “de lá”. Oficialmente, o texto do acordo não dizia nada disto; afirmava que cada país seria livre de escolher o seu governo segundo a vontade dos cidadãos.
As consequências são conhecidas. A União Soviética dominou imediatamente os governos da Bulgária, Checoslováquia, Hungria, Polónia, Roménia, Jugoslávia e Albânia, e incorporou como repúblicas soviéticas a Arménia, Azerbeijão, Belarus, Estónia, Letónia, Lituânia, Geórgia, Kazaquistão, Quirgustão, Moldava, Tajiquistão, Turquemenistão, Uzebequistão e Ucrânia, além de manter 10% da Finlândia que tinha conquistado em 1940. Este conjunto de repúblicas formou aquilo que Churchill chamaria a “Cortina de Ferro” em 1946, iniciando oficialmente aquilo a que se chamaria a “Guerra Fria”.
Ouve outros efeitos no quadro geopolítico da Europa resultantes de Yalta (embora não especificados no acordo) os mais importantes dos quais foi a manutenção de ditaduras em Portugal e Espanha ( e mais tarde na Grécia), apesar do modelo não ser considerado “ocidental”. A questão é que no pós-guerra os partidos políticos comunistas adquiriram uma força e influência inusitada em alguns países ocidentais, nomeadamente em França e em Itália e - segundo se diz - Churchill achou melhor que as países ibéricos fossem ditaduras “boas” do que “más”…
Esta nova situação geopolítica levou a que fosse criada em 4 de Abril de 1949 a NATO, Organização do Tratado do Atlântico Norte (durante algum tempo também conhecida pelo acrónimo francês, OTAN, formada pelos Estados Unidos, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega, Portugal e Reino Unido. Com o tempo outros países se juntaram - a Espanha só em 1982 - e actualmente são 30, se contarmos com a recentíssima adesão da Suécia. Além dos fundadores, pertencem à NATO a Albânia, Bulgária, Croácia, República Checa, Estónia, Alemanha, Grécia, Hungria, Letónia, Lituânia, Montenegro, Macedónia do Norte, Polónia, Roménia, Turquia e Eslováquia.
Só não pertencem a Áustria, Chipre, Irlanda e Malta. Correntemente a Bósnia, a Herzegovina, a Geórgia e, evidentemente, a Ucrânia são membros pendentes.
O principal objectivo, famosamente expresso no seu Artigo 5º, é defensivo. A NATO não pode iniciar uma guerra mas, se algum dos seus países for atacado, todos se juntam na sua defesa.
A União Soviética resolveu criar um pacto semelhante para defender os países da “Cortina de Ferro”, em 1955, incluindo a URSS, Albania, Bulgária, Checoslováquia, Alemanha de Leste (RDA), Hungria, Polónia, Roménia e Albânia. A Albânia abandonou o pacto em 1968, quando passou para a esfera ideológica da China, e a RDA em 1990, quando voltou a fazer parte da Alemanha unificada.
O Pacto de Varsóvia foi usado pela União Soviética para invadir a Checoslováquia em 1968. Em 1991, com a implosão da URSS, o pacto foi declarado oficialmente extinto.
Por sua vez, a NATO interveio na Líbia em 2011 (para parar a guerra civil), no Kosovo em 1999 (para acabar com a limpeza étnica dos albaneses levada a cabo pelos sérvios) e no Afeganistão em 2021 ( a pedido dos Estados Unidos, que consideraram o ataque de 11/Setembro às Torres Gémeas como um caso incluído no Artigo 5%)
Quando da fundação da Nato, diz-se que o primeiro secretário-geral, o inglês Hastings Ismay, afirmou que os objectivos da organização eram “manter a União Soviética fora, os Estados Unidos dentro, e a Alemanha irrelevante.” Se isto é verdade, ou se eram realmente os objectivos iniciais, a verdade é que a NATO mudou de objectivos com o passar o tempo; a URSS acabou e a Alemanha é um aliado indispensável.
Muito se tem discutido se fazia sentido a NATO continuar depois da implosão da União Soviética. Os partidos e entidades de esquerda sempre consideraram que a organização era apenas uma maneira de os Norte Americanos manterem o controle da Europa e uma provocação à URSS.
No entanto, uma análise fria mostra as vantagens da organização; por um lado, permitia aos americanos ter uma “buffer zone”, ou seja, uma região de protecção entre eles e os russos, caso rebentasse uma guerra; segundo, permitiu aos europeus não gastarem dinheiro em defesa, protegidos pelas seguranças americanas (e canadianas, que são são sempre esquecidos…) criando uma sociedade de progresso e bem estar nunca vista, nestes 75 anos.
Os números da NATO (em 2022) são impressionantes: 3,5 milhões de soldados, numa área de 25,07 milhões de quilómetros quadrados, habitada por 966.88 milhões de pessoas. As suas despesas militares constituem 55% dos gastos globais - isto antes de atingir os tais 2% do GDP de todos os participantes.
Era mais ou menos senso comum de que a NATO se tornara desnecessária a partir de 1989, com o colapso do seu inimigo confesso, a União Soviética. E, de facto, a organização vinha perdendo efectivos e capacidade operacional. Os cínicos diziam que era apenas uma oportunidade dos generais de cinco estrelas dos países participantes terem bons “tachos” nos diferentes comandos operacionais espalhados pela Europa. Também não contribuíram para o futuro da organização as várias afirmações de Trump, então presidente dos Estados Unidos, de que a aliança custava uma fortuna aos americanos e era um “mau negócio” para eles.
Tudo mudou com a invasão russa da Ucrânia, como sabemos. Afinal a Rússia, um tanto surpreendentemente, arranjou maneira de se manter um inimigo assustador do modelo de democracia ocidental que a NATO pretende proteger. Já não é um país comunista, mas é uma ditadura expansionista cujos objectivos, ditos pelo próprio Putin, é criar um “Império EuroAsiático de Vladivostok a Lisboa”. Esse império é um sonho impossível, pelo menos durante o tempo em que for vivo (tem 71 anos), mas o seu primeiro objectivo, que é reconstituir o antigo território da União Soviética.
Na próxima semana, quinta-feira, os ministros dos Negócios Estrangeiros vão reunir-se em Bruxelas com os principais quadros da NATO. Há um grupo chama Contacto de Defesa da Ucrânia que engloba 54 nações, dirigido por Lloyd Austin, Secretário da Defesa Americano, e o ex-chefe do Estado Maior General Mark Miley.
Donald Tusk, que foi o Secretário Geral da organização até ser eleito, em Dezembro, primeiro ministro da Polónia, disse que a Europa está a viver um período de “pré-guerra”. O norueguês General jens Stoltenberg será certamente eleito novo Secretário Geral.
É verdade que existe o perigo de Donald Trump, se for eleito, tentar minar a preponderância norte-americana na NATO. E também é verdade que os países europeus ainda não estão preparados para se defenderem sozinhos. Mas o Império Euro-Asiático de Lisboa a Vladivostok é um sonho megalómano impossível.
A NATO tem de agradecer ao inimigo a sua injecção de juventude, cheia de genica!
Comentários