Bolsonaro, Trump, Orban, Salvini, Le Pen, a AfD como segunda força política na Alemanha, a ilha da Dinamarca para imigrantes. E agora, na Andaluzia, foram eleitos para o Governo regional 12 deputados pelo Vox, o amoroso partido que é anti-imigração, anti-direitos LGBT, anti-aborto, que quer revogar as leis que criminalizam a violência de género e, claro, tem o lema “os espanhóis primeiro”. Se à porta de Auschwitz dizia “O trabalho liberta”, o nacionalismo diz por todo o lado “o ódio liberta”, com a diferença que neste caso as pessoas estão a aderir voluntariamente como lemmings que vêem o da frente a cair no buraco mas, ainda assim, seguem adiante até caírem também. Uma epopeia de estupidez e ódio num espectáculo trágico-cómico. Não é preciso saber assim tanto de História para saber como é que esta brincadeira vai acabar (mal, tão mal) para toda a gente, tirando para um punhado deles que esteja no poder.
No entanto, acho que isto do nacionalismo também é só para os que lhe convém, sinto falta de mais profundidade e compromisso. Se é para aderirmos ao nacionalismo, tem de ser mesmo a sério, em todas as áreas e que adiram todos os países também.
Bas Dost, Jonas, Brahimi, e todos os outros, recambiados logo para a terra deles. Essa era a primeira. E depois, tudo por aí fora: Apple, Samsung, IKEA, Facebook, Instagram, Google, todas as marcas de carros, electrodomésticos, comida importada, rodízios brasileiros, pizza, sushi, whisky, gin, vodka, erva, coca, todos os medicamentos com patentes estrangeiras, Zara, Fred Perry, H&M, tudo o que seja cultura não portuguesa, seja música, cinema ou literatura (incluindo o "Mein Kempf", sim), e tudo, tudo, absolutamente tudo o que não seja nacional. E aí, sim, era nacionalismo em condições. Íamos andar para trás uns quantos séculos, mas o que importa é defender os valores e os produtos nacionais a todo o custo sem ter que levar com nojo estrangeiro, não é verdade?
Para não pensarem que seria tudo mau, pensem que o Ronaldo voltaria para Portugal (embora tivesse que jogar de chuteiras da Sanjo), que iam comer cozido e feijoada muito mais vezes do que os médicos recomendam, e que não havendo televisão nem internet, iríamos estar todos muito mais tempo juntos nos cafés a odiar os estrangeiros.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- "Biografia dos Amantes Involuntários": livro de João Tordo. Não adorei, mas é bonito.
- "Black K Klansman": novo filme do Spike Lee sobre uma história verídica de um infiltrado no KKK. Muito bom, gostei mesmo.
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