José Ramos-Horta falava numa conferência de imprensa no Palácio de Belém, juntamente com o seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, que o recebeu no âmbito de uma visita que o chefe de Estado timorense realiza a Portugal.

Sobre os timorenses em dificuldade em Portugal, o Presidente de Timor-Leste disse que a "situação resulta de atos ilegais de grupos, de elementos sem escrúpulos" em Timor-Leste, que "fazem promessas falsas aos jovens".

"É um fenómeno muito comum em todo o mundo, em particular nos países em vias de desenvolvimento, arrasta-se há décadas", referiu.

E acrescentou: "Timor-Leste é um país livre e democrático, sem constrangimentos nas entradas e saídas das pessoas, timorenses ou não. É muito mais fácil a esses grupos venderem a ilusões de que em Portugal, Alemanha, Canadá, que ali encontrarão melhores empregos, etc.".

"Esse processo foge ao processo normal que tem sido conduzido sempre por instituições do Estado", disse, referindo-se aos programas em vigor, que o próprio promoveu, envolvendo Timor-Leste e a Coreia do Sul e a Austrália.

"Temos um programa de jovens trabalhadores timorenses que vão à Coreia do Sul", com mais de 2.000 num processo que "vai continuar, com vantagens obvias, em termos de salários, aprendizagem de novas profissões enquanto estão na Coreia do Sul, novos hábitos de disciplina de trabalho e são embaixadores de boa vontade entre Timor-Leste e a Coreia do Sul", explicou.

Segundo Ramos-Horta, "o mesmo acontece na Austrália, onde há um programa para trabalhadores sazonais, que começou há cinco, seis anos, um programa muito modesto", que também lançou quando era ministro dos Negócios Estrangeiros.

"Na altura, a Austrália nuca teve essa experiência de trabalhadores timorenses, também não foi fácil e hoje o programa corre muito bem e via mecanismos do Estado", acrescentou.

"A vinda para cá [Portugal] tem outra dimensão, porque, para ir para a Austrália ou a Coreia do Sul passa por um processo burocrático timorense e do país anfitrião", referiu.

Já a deslocação para Portugal assenta na "mobilidade que Portugal permite, o passaporte permite, com a manipulação das pessoas ditas de agências de viagem".

"Do lado timorense, é obrigação nossa identificar e punir, segundo a lei, os que enganam os jovens, com a cobrança de dinheiro, que vai de 3.000 até 5.000 dólares, com juros elevadíssimos", advogou.

José Ramos-Horta referiu que "este problema não escamoteia ou escamoteia as outras dificuldades que Timor-Leste enfrenta, como outros países, sobretudo com a covid-19 e a guerra na Ucrânia, em que há uma pressão social muito maior".

Apesar disso, o chefe de Estado considera que "o Governo tem lançado e realizado os mais variados programas para suavizar o impacto social do problema da pandemia e da guerra na Ucrânia, com a subida dramática do preço do combustível e dos géneros alimentares".

A questão dos imigrantes timorenses está na agenda desta visita de José Ramos-Horta a Portugal, que começou sábado.

Hoje, o programa da visita de Estado arrancou com o depositar de uma coroa de flores no túmulo de Luís de Camões, no Mosteiro dos Jerónimos, antes do chefe de Estado de Timor-Leste seguir para o Palácio de Belém, onde recebeu honras militares e assinou o Livro de Honra, e teve um encontro com Marcelo Rebelo de Sousa.

A visita prossegue na residência do primeiro-ministro português, António Costa, e um encontro entre ambos.

O chefe de Estado timorense desloca-se à tarde para a sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde terá um encontro com o secretário-executivo da organização, o timorense Zacarias da Costa, e participará numa sessão solene.

Seguirá para a Câmara Municipal de Lisboa, onde o aguarda o presidente da autarquia e uma sessão solene com entrega das chaves da cidade.

Do programa deste dia ainda consta uma ida à Assembleia da República, onde será recebido com honras militares e terá um encontro com presidente do parlamento português, alargado às delegações. À noite está agendado um jantar oficial oferecido pelo Presidente da República português.

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