Destinado a estreitar os laços económicos e culturais com essas nações tradicionalmente mais próximas de Moscovo que de Pequim, este grande encontro decorre na altura em que o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se reúne no Japão com os dirigentes do G7 (grupo dos países mais industrializados do mundo, que inclui ainda Alemanha, Canadá, França, Itália e Reino Unido, bem como uma representação da União Europeia).
Trata-se da primeira edição desta “cimeira China-Ásia Central” desde o estabelecimento de relações diplomáticas, em 1992, entre o gigante asiático e essas repúblicas (Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão), após o desmoronamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Numa escolha simbólica, a reunião, classificada por Pequim como “extremamente importante”, realiza-se na cidade histórica de Xi’an (norte), no extremo oriental da antiga Rota da Seda, que ligava a Europa e a China através da Ásia Central.
Xi Jinping recebeu os cinco Presidentes ao fim da tarde de hoje, à entrada de um grandioso edifício chinês de estilo antigo, iluminado por lanternas vermelhas.
Dezenas de bailarinos interpretaram em seguida um colorido espetáculo musical inspirado na dinastia Tang (618-907) – outra opção com um significado especial, uma vez que as relações China-Ásia Central eram particularmente fortes nessa época.
“Estou convicto de que o nosso empenho comum fará da cimeira de amanhã (sexta-feira) um grande êxito e inaugurará uma nova era” nessas relações, disse Xi Jinping aos seus cinco homólogos, num jantar de boas-vindas.
“A China convida sinceramente” estes países a “subirem a bordo do comboio expresso do seu desenvolvimento para construir em conjunto um futuro melhor”, sublinhou, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
Antigos membros do Império Russo e, depois, da União Soviética, estes países conservam laços económicos, linguísticos e diplomáticos privilegiados com Moscovo.
Mas com a guerra na Ucrânia, a influência russa esbateu-se, deixando um vazio relativo que o Presidente chinês se propõe preencher.
“Xi Jinping vai apresentar-se como um líder capaz de promover o desenvolvimento e a paz no mundo”, afirmou Zhiqun Zhu, professor de Relações Internacionais na Universidade de Bucknell, nos Estados Unidos, citado pela agência de notícias francesa AFP.
Devido a uma coincidência (ou não) de agenda, uma cimeira dos dirigentes do G7 inicia-se na sexta-feira em Hiroxima, com a presença de Biden, cujo país regularmente retrata Pequim como uma ameaça.
O evento japonês será, em especial, dedicado à definição de uma estratégia conjunta contra a crescente influência da China no mundo.
Em contrapartida, “a importância diplomática e estratégica” da inédita reunião que decorre em Xi’an na sexta-feira “não deve ser subestimada”, sublinhou Zhigun Zhu.
“A cimeira China-Ásia Central mostra que o relançamento da China não pode ser travado e que ela beneficia de um forte apoio na Ásia Central e noutros países em desenvolvimento”, acrescentou.
A China estimou que o seu comércio com Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão atingiu no ano passado 70 mil milhões de dólares (64 mil milhões de euros) e cresceu, no primeiro trimestre de 2023, 22% em relação ao mesmo período do ano passado.
A Ásia Central ocupa um lugar de destaque na iniciativa chinesa da “Nova Rota da Seda”, também conhecida como “Belt and Road Initiative” – um plano de investimentos que engloba 65 países, compreendendo aproximadamente 62% da população e 30% do Produto Interno Bruto (PIB) global, que constitui a principal estratégia de política externa do Governo Xi Jinping para a projeção do país.
Apresentado pelo chefe de Estado chinês no final de 2013, este programa faraónico pretende desenvolver, graças a fundos chineses, estradas, portos, ferrovias e outras infraestruturas no estrangeiro.
O gigante asiático já investiu milhares de milhões de euros para explorar reservas de gás natural na Ásia Central e construir ligações ferroviárias entre a China e a Europa através da região.
A cimeira é uma oportunidade para fazer avançar alguns projetos, como a linha ferroviária China-Quirguistão-Uzbequistão ou ainda a extensão do oleoduto entre a Ásia Central e a China.
Xi Jinping disse hoje ao seu homólogo quirguiz, Sadyr Zhaparov, que a China está “disposta a trabalhar com o Quirguistão para construir uma comunidade de boa vizinhança, amizade, prosperidade compartilhada e futuro comum”.
O Presidente chinês fez declarações semelhantes aos homólogos uzbeque, Chavkat Mirzioïev, tajique, Emomali Rakhmon, e turquemeno, Serdar Berdymukhamedov, apelando para a promoção das relações económicas e culturais.
Os principais anúncios da cimeira deverão ocorrer na sexta-feira, nomeadamente num encontro dos seis chefes de Estado com a imprensa.
Comentários