Eles não param desde sábado. É um passeio pela baixa lisboeta, um saltinho ao mercado da Ericeira para comprar peixe, um cafezinho numa pastelaria de Benfica tomado na esplanada, um almoço no Bairro Alto, uma visita rápida à Torre de Belém com o desafio de planear férias cá dentro.
Com a segunda fase de desconfinamento em curso, Costa e Marcelo encetam um (claro) esforço concertado para devolver a confiança aos portugueses. Use máscara, mantenha o distanciamento social e a etiqueta respiratória, mas não fique em casa. Esta parece ser a mensagem — e a economia agradece.
E por cada saída, fica o convite a abraçar este novo normal, em que aprendemos a conviver com o vírus — ou não fosse a vacina demorar um ano “na melhor das hipóteses”.
"Com a mesma determinação como nos fechámos, temos agora também de voltar à rua", disse António Costa este sábado, depois de passear pela baixa lisboeta de braço dado com a esposa e acompanhado por jornalistas e por Fernando Medina. Hoje, o primeiro-ministro começou o dia numa pastelaria em Benfica, tomou um café na esplanada, comeu um folhado, e disse que “depois de não nos termos deixado vencer pelo vírus, não nos podemos deixar-nos vencer pela cura”. “Se continuarmos todos parados sobrevivemos à doença, mas podemos não sobreviver à cura. É preciso ir vencendo estes receios, com confiança e sempre com cautela”, concretizou. Horas mais tarde — depois de uma entrevista à TSF onde anunciou que os 500 ventiladores encomendados por Portugal à China já se encontram na embaixada em Pequim, reafirmou a sua confiança em Centeno e antecipou um verão sem bares nem discotecas —, convidou Ferro Rodrigues para almoçar no Bairro Alto. Aqui já adiantou que o Governo está a trabalhar num desenho do Orçamento Suplementar associado a um programa de emergência económico e social, sem porém avançar com detalhes (que é como quem diz números) envolvidos.
Não menos ativo, Marcelo Rebelo de Sousa foi ao mercado da Ericeira no domingo fazer compras. Não houve beijinhos, mas regressaram as selfies (com o devido distanciamento) e até ficou a promessa de um mergulho primeiro em Cascais e depois na Ericeira no próximo dia 6 de junho, em que reabrem as praias. Hoje deu um pulo à Torre de Belém, por ocasião do Dia Internacional dos Museus, que este ano coincide com a reabertura destas estruturas ao público depois de dois meses de confinamento. Depois da visita, lembrou que estamos numa maratona contra o vírus (não há cá sprints para ninguém) e por isso deixou o apelo aos portugueses para que tirem férias cá dentro e "redescubram o encanto" do património cultural do país.
Lá fora, a dupla que quer liderar a retoma europeia aparece encabeçada pela França e pela Alemanha — neste caso por Macron e Merkel — que propuseram hoje o valor de 500 mil milhões de euros para a criação de um fundo de recuperação europeu para as economias afetadas pela pandemia de covid-19.
Entretanto, alinhado com Costa parece estar o ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire. Porquê? O primeiro-ministro português disse que hoje, na citada entrevista à TSF, que "neste momento a doença que vivemos do ponto de vista económico não tem a ver com um problema estrutural da nossa economia, nem com uma rutura das finanças do Estado, ou com uma crise do sistema financeiro. Tem a ver com uma paralisação da economia à escala global. Nós não temos neste momento de acrescentar medidas de restrição económica — seja por cortes no rendimento, por via de cortes de salários ou pensões, ou por via de impostos — para responder a esta crise. O que esta crise precisa é de incentivos à procura de forma a poder retomar a produção. Precisamos do contrário das medidas de austeridade".
Já Bruno Le Maire adiantou que o Governo francês não aumentará os impostos para responder à acentuada subida das despesas públicas devido à crise e referiu que a dívida gerada será paga mais tarde. Numa entrevista à rádio “France Info”, o governante insistiu no facto de que a dívida gerada será paga, “mas mais tarde" e graças "ao crescimento futuro da atividade” económica. Le Maire disse ainda que aumentar os impostos é recorrer a uma “solução fácil”, repetindo que o Governo “não quer fazê-lo”.
O alinhamento não é de estranhar. É porque desta vez a crise não é minha ou tua, é nossa. Não houve recanto da Europa que escapasse ao impacto da covid-19 e, como referiu Costa: "Se não for agora que a Europa consegue responder bem a esta crise suscitar-se-á uma enorme dúvida à escala global sobre o sentido da Europa".
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