O estudo da Nova SBE “Impactos Macroeconómicos do setor Cervejeiro” em Portugal a pedido e em colaboração com a associação Cervejeiros de Portugal avalia os impactos macroeconómicos do setor e o contributo direto e indireto de toda a fileira.
João Bernardo Duarte, um dos autores do estudo, a par de Pedro Brinca, destacou, em declarações à Lusa, o “impacto grande” que o setor tem no PIB (produto interno bruto), cerca de 1,5%.
Na última década, 2019 representa “o marco histórico da indústria da cerveja em Portugal, pois foi o ano com o maior volume de produção desde 2014, atingindo os 710 milhões de litros, e o maior volume de consumo doméstico desde 2010, registando o pico de 550 milhões de litros de cerveja”, de acordo com o estudo.
O setor é responsável por “51.739 empregos diretos e indiretos – 1,69% dos empregos gerados e/ou mantidos em Portugal, quase o dobro de empregos nas indústrias às quais compra face aos que gera no próprio setor -, facto é que, no ano que precedeu a atual pandemia, o setor revelou-se altamente produtivo, atribuindo cerca de 2.602 milhões de euros em valor acrescentado para a economia portuguesa, 1,53% do PIB nacional”.
Em termos de rendimento de trabalho, a fileira da cerveja impactou a economia com 821 milhões de euros, representando 1,22% do rendimento total nacional.
“Constatámos que é um setor muito mais produtivo do que a média nacional”, ou seja, “é um bocado mais do dobro da produtividade da média nacional” e cerca de 50% mais que o setor das bebidas, salientou o responsável.
“O que nos surpreendeu neste estudo da Nova é que produtividade por trabalhador dentro do setor cervejeiro, que é mais de duas vezes a produtividade de um outro trabalhador de um outro setor da economia nacional, faz com que se toda a economia nacional tivesse a mesma produtividade por trabalhador do setor cervejeiro nós teríamos um desenvolvimento económico idêntico ao dos Estados Unidos”, salientou, por sua vez, o secretário-geral da Cervejeiros de Portugal, Francisco Gírio.
O setor cervejeiro integra uma cadeia de valor que vai desde a produção de matérias-primas à venda do produto, impactando vários setores como os serviços de transporte terrestre e por condutas (18,9 milhões de euros), serviços administrativos e de apoio prestados às empresas (15,4 milhões de euros), serviços de publicidade e estudos de mercado (14,7 milhões de euros”, entre outros, refere o estudo.
“Outro dado interessante é que a produtividade é partilhada com os trabalhadores, constata-se que os salários são acima da média nacional e o emprego é estável”, ou seja, “quase 80% são contratos sem termo”, o que compara com 64% do resto da economia, destaca João Bernardo Duarte.
“Em matéria de caracterização de emprego, o setor cervejeiro apresenta valores acima da média em termos de qualificação e remuneração nos seus 2.615 empregos diretos” e “mais de metade (53,9%) recebem um salário bruto anual entre 10.000 euros e 20.000 euros, um valor superior ao do setor das bebidas (36,6%) e da economia Portuguesa (25,5%)”, segundo o estudo, que refere que é também “mais qualificado do que a média nacional”.
Mais de um quarto (26,33%) dos trabalhadores com licenciatura, 58,2% com mestrados e 33,3% dos doutorados de todo o setor das bebidas trabalham nos cervejeiros de Portugal, setor que emprega, direta e indiretamente, mais de 50 mil pessoas.
O estudo “retrata a evolução da última década, mas concentra-se em 2019 e em 2020”, este último em que o setor foi “fortemente afetado” pela pandemia de covid-19 e os seus efeitos no alojamento e na restauração, sublinhou João Bernardo Duarte.
O setor cervejeiro, disse, “é bastante resiliente, muito ligado à economia local, muito integrado na economia portuguesa” e “é um setor chave para o crescimento da economia portuguesa”, considerou o autor do estudo.
Em termos de género, quase 80% dos trabalhadores são homens.
Este estudo “vem provar várias coisas”, salientou Francisco Gírio, entre elas que “o setor cervejeiro é um setor chave para o crescimento económico nacional, que o impacto do setor cervejeiro reside não apenas dentro do setor, mas tem um efeito multiplicador fora do setor”.
Ou seja, “cada euro gasto no setor cervejeiro tem um efeito multiplicador de 2,5 euros gerados na economia nacional, é um setor que deveria ser olhado quase como um ‘case study’ nacional dentro da economia em Portugal por várias razões, principalmente porque é um setor produtivo, tem o dobro da produtividade média da economia nacional, é o que remunera melhor os seus trabalhadores e é o setor mais qualificado”, sintetiza o secretário-geral da Cervejeiros de Portugal.
No entanto, aponta, “existe um problema de equidade fiscal no setor das bebidas em Portugal”, quando se compara com outros setores.
De acordo com o estudo, a perda de bem-estar para a sociedade devido ao pagamento do imposto especial sobre o consumo (IEC) a que está sujeito, ao contrário do vinho, pode chegar até aos 880 mil euros por ano.
“Por sua vez, o valor adicional de IVA de 10 pontos percentuais, quando comparado ao setor do vinho, gera uma perda para a sociedade portuguesa até aos 5,964 milhões de euros”, pelo que o estudo conclui “que não existe um racional de eficiência fiscal para que a cerveja tenha um tratamento fiscal agravado” relativamente ao vinho.
O setor cervejeiro em Portugal é composto por cerca de 100 empresas produtoras – das quais 96 são microcervejeiras – sediadas em 74 localidades, ao longo de 22 concelhos de Portugal.
Os cervejeiros são responsáveis, no que respeita às bebidas, por cerca de 18% da produção total e por 30,5% do valor acrescentado do país.
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