A ideia foi assumida por três ‘chefs’ portugueses que lideram restaurantes independentes – de cozinha de autor e sem estarem enquadrados em grandes grupos de restauração -, no arranque do primeiro dia do evento virtual “The Power of Food”, dedicado ao debate sobre o futuro da restauração, promovido pelos organizadores do evento Sangue na Guelra.
Ainda sem data certa para a reabertura dos restaurantes, para Alexandre Silva (“Loco”, uma estrela Michelin, “Fogo” e “Alexandre Silva no Mercado”, em Lisboa), Hugo Brito (“Boi Cavalo”, Lisboa) e Vasco Coelho Santos (“Euskalduna Studio” e “Semea by Euskalduna”, Porto) a palavra do momento é “prudência”, após a crise desencadeada pela covid-19 e que descrevem como “uma bomba” que caiu sobre os seus negócios.
“Como estamos na guerra, estamos atentos a tudo. Somos mais prudentes e cautelosos”, disse Alexandre Silva, intervindo no debate, com transmissão em direto nas redes sociais e YouTube.
Desta situação, Alexandre Silva retirou uma lição: “Aquilo que pensávamos que era o futuro estava errado. Pensávamos que era investimento e que os governantes nos apoiavam e quase que impingiam isso. Hoje temos de pensar de forma completamente diferente”, comentou.
Para o ‘chef’, há que “zelar para que as empresas tenham condições para aguentar seis, sete meses, caso isto aconteça novamente”.
“Um bom empreendedor era o que investia 99% do que ganhava, hoje em dia há que investir 20%”, defendeu.
Para Hugo Brito, com o “Boi Cavalo” no bairro de Alfama, o futuro passa por os restaurantes se conseguirem “reaproximar do público português, que por circunstâncias várias tinham perdido”.
“Deixámo-nos armadilhar numa excessiva dependência do turismo e os negócios não podem depender tanto do turismo”, considerou.
Alexandre Silva afirmou que o seu restaurante “Fogo” é atualmente “a luz ao fundo do túnel”, precisamente por só ter recebido clientes portugueses durante os três meses que funcionou, até dia 13 de março.
Por seu lado, Vasco Coelho Santos disse que sempre teve muito público português e acredita que proporcionar jantares privados, em casa dos clientes, pode ser uma solução para o futuro, ao contrário do ‘take away’, que considera não se adaptar ao tipo de cozinha que pratica.
A retoma de um projeto antigo de ‘take away’ foi uma “solução provisória” para o “Boi Cavalo”, referiu Hugo Brito: “Estamos a conseguir pagar ordenados e, não a totalidade das contas, mas uma parte. Não estamos a acumular um passivo enorme”.
Há ainda o problema da falta de liquidez: Vasco Coelho Santos colocou os restaurantes em ‘lay-off’ e teve de recorrer às poupanças pessoais para pagar as contas no último mês e meio, mas daqui para a frente só com recurso aos bancos.
Mas, até agora, “nada é aprovado, nada é seguro”, lamentou, concluindo: “Prefiro saber que apoios vamos ter”.
No mesmo sentido, Hugo Brito afirmou, sobre o apoio estatal: “Pelos vistos é quase universal, não aconteceu, ao contrário do que é dito publicamente”.
Alexandre Silva confia que os restaurantes “genuínos” são os que conseguirão sobreviver.
“O que está a acontecer neste momento, nunca passámos, mas a verdade é que os restaurantes mais familiares são os que vão conseguir ultrapassar com mais facilidade”, sustentou.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 245 mil mortos e infetou mais de 3,4 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de um milhão de doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 1.043 pessoas das 25.282 confirmadas como infetadas, e há 1.689 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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