“Os custos de cada crise, em termos de produto [Produto Interno Bruto] e emprego, teriam sido maiores”, afirmou João Borges de Assunção, professor da Universidade Católica, em declarações à Lusa, salientando, contudo, que “o mais importante” foi a formação que o FMI deu aos “governantes, banqueiros centrais e banqueiros” portugueses, apesar de considerar que “provavelmente ainda foi insuficiente”.
No mesmo sentido, Miguel Cardoso, economista chefe do BBVA para Espanha e Portugal, afirmou que, “em cada ocasião, os ajustes na economia teriam que ser maiores”, acrescentando que, “na ausência do financiamento para o qual contribuiu o FMI, Portugal teria que gerar esses recursos internamente”.
O economista explicou que “isso significaria ter que aumentar ainda mais a poupança pública ou privada, o que implicaria maiores cortes no consumo ou no investimento doméstico”.
E Miguel Cardoso salientou ainda que, “além disso, as reformas implementadas, em parte como consequência dos programas implementados, melhoraram a perceção sobre a capacidade de crescimento da economia portuguesa”, dando o exemplo da reforma do mercado de trabalho.
Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio, afirmou, por seu turno, que, “os financiamentos do FMI permitiram que, não obstante ter havido processos recessivos associados aos programas de ajustamento, os funcionários públicos tivessem continuado a receber os seus salários e os pensionistas as suas pensões, ainda que com cortes”.
O economista frisou que, se for analisado o último programa de ajustamento, de 2011, em que o Estado tinha um elevado défice primário, “sem o financiamento acordado com a ‘troika’ (em que o FMI era um dos três intervenientes, além da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu - BCE), o Estado não poderia pagar a totalidade das suas despesas, em que uma grande fatia são salários e pensões, o que provocaria uma recessão muito mais profunda do que a observada”.
Ou seja, explicou Rui Bernardes Serra, “caso não tivesse aprendido com os erros, Portugal teria passado por três intensos processos recessivos nos últimos 40 anos e seria certamente hoje muito mais pobre do que é”.
A primeira vez que o FMI "aterrou na Portela" foi em 1977 quando Ramalho Eanes era Presidente da República e Mário Soares era primeiro-ministro do primeiro Governo Constitucional.
Na altura, com uma taxa de desemprego superior a 7%, bens racionados, inflação crescente, conflitualidade política e o escudo desvalorizado, o FMI interveio pela primeira vez desde que Portugal aderiu à instituição, em 1960.
Na bagagem trouxe "pacotes" que se traduziram na redução de salários e subida de impostos, em troca de um empréstimo no valor de 750 milhões de dólares.
Poucos anos depois, em 1983, o FMI regressou a Portugal, novamente com Mário Soares como primeiro-ministro, desta vez à frente do governo do Bloco Central, com o PPD-PSD de Mota Pinto.
Com o desemprego acima dos 11% e uma dívida externa galopante devido à subida das taxas de juro internacionais, o FMI emprestou (mais) 750 milhões de dólares e novamente impôs cortes nos salários da Função Pública, aumentos de preços, travão ao investimento público e cortes nos subsídios de Natal, entre outras medidas.
Em 2011, na mais recente e terceira vez que Portugal pediu assistência internacional, o FMI emprestou 26 mil milhões de euros (de um empréstimo global de 78 mil milhões de euros), empréstimo que Portugal saldou em dezembro de 2018.
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