“O nosso objetivo e o nosso foco agora, até 2023, é o reforço da componente de investigação e desenvolvimento do parque. Temos já alguns laboratórios cedidos à parte empresarial”, adiantou, em declarações à Lusa, o diretor executivo do Terinov, Duarte Pimentel.
Construído num antigo hospital militar, onde funcionou durante décadas o campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, o Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira acolheu a primeira empresa em incubação no dia 31 de julho de 2019, depois de um trabalho de oito meses de “preparação do terreno” e de criação de parcerias.
No primeiro mês, instalaram-se três empresas. Hoje são 34 (incluindo uma em incubação virtual) e quatro entidades não empresariais científicas.
“Estamos a falar de um ecossistema de 38 entidades a esta data. Isto representa sensivelmente 120 postos de trabalho altamente qualificados”, avançou Duarte Pimentel.
Os espaços destinados à incubação de empresas estão praticamente todos preenchidos, por isso o parque quer apostar agora na incubação virtual.
“Para nós foi uma surpresa bastante agradável. Acho que com as primeiras empresas que acolhemos conseguimos transmitir uma imagem de credibilidade e de profissionalismo muito sério”, frisou o diretor executivo.
Dos projetos atualmente no Terinov, 11 estão em pré-incubação ou são de profissionais liberais, 15 estão em incubação e oito em desenvolvimento empresarial.
A principal área do parque é a indústria agroalimentar, uma das três áreas da estratégia de especialização inteligente para os Açores (agricultura, mar e turismo) e aquela que faz a ponte com a academia açoriana, já que a Faculdade de Ciências Agrárias está localizada na ilha Terceira.
“O Terinov surge como entidade interface, algo que liga o contexto académico ao tecido empresarial. Esta é a nossa principal missão, esta transferência de conhecimento e tecnologia”, salientou Duarte Pimentel.
Podem também instalar-se empresas ligadas às indústrias culturais e criativas e às tecnologias de informação e comunicação, áreas identificadas como potenciais aliadas da agroindústria, ainda que não sejam obrigadas a trabalhar com este setor.
Uma das principais vantagens da integração no Terinov, segundo diretor executivo, é a partilha de contactos e de conhecimentos entre empresas.
“As ‘startups’ muitas vezes não têm no seu portfólio interno a capacidade de dar uma resposta integrada a um determinado projeto ou a uma solicitação de um cliente. Muitas vezes o que acontece aqui no Terinov é que eles batem à porta da frente e essa outra empresa tem a capacidade de dar a componente que lhes falta”, adiantou.
O parque integra ainda quatro entidades não empresariais científicas: o Centro de Biotecnologia dos Açores, a Associação para a Ciência e Desenvolvimento dos Açores, o Air Centre (Centro Internacional de Investigação do Atlântico, que envolve vários países) e o programa de monitorização de objetos no espaço Space Surveillance and Tracking (SST), desenvolvido pelo Ministério da Defesa, em colaboração com o Governo Regional dos Açores.
Segundo Duarte Pimentel, a escolha dos Açores para a iniciativas como o Air Centre ou o SST e a parceria estabelecida entre o Terinov e a Universidade de Massachusetts, em Lowell, comprovam que o arquipélago começa a assumir “uma posição muito interessante” do ponto de vista científico.
“Cada vez mais se fala nos Açores como um laboratório vivo, em particular em tudo o que tem a ver com a agricultura de precisão, com a observação da terra, com a gestão costeira, com a gestão e ordenamento do território, com questões de biotecnologia, com as questões dos riscos geológicos e vulcanologia”, enumerou.
João Gonçalves, sócio-gerente da Eyecon, destacou precisamente a integração do Air Centre no parque como uma das principais vantagens do Terinov.
“A troca de informação tem sido muito benéfica para nós, principalmente porque, estando nós na área da monitorização e agora também a fazer alguns projetos de monitorização por satélite, temos aqui o Air Centre, que tem sido benéfico para nos ajudar a prosseguir este tipo de sistemas”, apontou.
Instalada já há um ano na StartUp Angra, a Eyecon, empresa que desenvolve sistemas de sensorização e monitorização para controlo de processos, foi a primeira a instalar-se no Terinov.
Ao longo de um ano, João foi vendo os corredores vazios encherem-se de caras novas e diz que a partilha do espaço e a troca de contactos “traz muito valor às empresas”.
“Não se pode deixar de dar importância a esta ligação entre a parte científica e a parte empresarial, porque o que nós notamos é que a parte científica traz muito conhecimento, mas muitas vezes não consegue ter a habilidade de criar ferramentas para pôr estes conhecimentos em prática e nós trazemos essa habilidade”, salientou.
João Machado é um dos mais recentes inquilinos do Terinov. Engenheiro eletrotécnico, trabalhou durante 10 anos na área, mas há cerca de um mês decidiu criar o próprio negócio.
“Eu já tinha ideia de me lançar por conta própria, com esta situação [covid-19] comecei a pensar muito nessa hipótese. Pensei: se calhar é melhor altura para me lançar, porque se não é agora, nunca vai acontecer”, revelou.
Tinha ideia de que integrar uma incubadora de empresas era “algo complicado”, mas apresentou o projeto e “em menos de uma semana” a MJ Engenharia estava em pré-incubação no Terinov.
“Têm-me surgido muitas oportunidades, desde que estou aqui, de contactar com outras empresas. Vive-se muito este ambiente de ecossistema. A gente anda aqui pelos corredores, acaba por se cruzar uns com os outros”, realçou.
Comentários