Ontem à noite, no início de uma greve de dois dias dos trabalhadores dos CTT, o secretário-geral dos comunistas esteve junto da central de distribuição em Cabo Ruivo, em Lisboa, para prestar solidariedade aos trabalhadores.
“Não olhem para isto como um conflito laboral apenas. Está em causa o interesse nacional”, disse Jerónimo de Sousa aos jornalistas em Cabo Ruivo, numa ação onde estiveram também presentes o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, o seu homólogo da UGT, Carlos Silva, e o deputado comunista José Soeiro.
Na prática, a greve de dois dias começou ainda ontem à noite, dado que vários grupos de trabalhadores do centro de tratamento de correio de Cabo Ruivo, em Lisboa, iniciam o seu turno às 22:00 e às 23:00.
Na terça-feira os CTT, que empregam 12 mil trabalhadores, dos quais cerca de sete mil são da área operacional (rede de transportes, distribuição e carteiros), divulgaram um plano de reestruturação que prevê a redução de cerca de 800 postos de trabalho nas operações da empresa ao longo de três anos, devido à queda do tráfego do correio.
Os trabalhadores “estão em luta pela defesa dos seus interesses, do seu emprego, mas há que valorizar esta luta porque também tem uma dimensão de defesa do interesse nacional”, disse Jerónimo de Sousa, lembrando que os CTT foram historicamente um órgão público “ao serviço das populações, que hoje se sentem atingidas pelas limitações do serviço publico, que de forma arrogante a administração resolveu ameaçar com o despedimento de 800 trabalhadores”.
“Infelizmente no nosso país estamos habituados a saber o que é que significam as restruturações, em que o alvo principal são os trabalhadores e os seus direitos”, e por isso quisemos prestar solidariedade aos trabalhadores, disse Jerónimo de Sousa.
Apelando à luta e unidade dos trabalhadores, o secretário-geral do PCP defendeu uma intervenção nos CTT “no plano público, porque está em causa um setor estratégico”, pelo que devem ser “encontradas formas onde essa gestão pública garanta a continuidade da empresa, o seu desenvolvimento e a defesa dos interesses dos trabalhadores”.
Jerónimo de Sousa disse não estar a defender uma nacionalização, mas avisou que o Estado “não pode lavar as mãos” à espera de uma administração “mais preocupada com os seus lucros e interesses próprios do que com o interesse nacional e com os trabalhadores”.
Mais perentório foi o deputado do Bloco de Esquerda José Soeiro, que também esteve a prestar solidariedade aos trabalhadores e que disse aos jornalistas que “cada dia que passa confirma a necessidade e a urgência de resgatar a concessão dos CTT, de resgatar a empresa para o controlo público”.
“Precisamos de dar esse passo sob pena de a cada dia que passa a empresa ser cada vez mais destruída, o processo de destruição da empresa tem de ser travado agora”, afirmou, acrescentando que com a privatização os CTT se transformou numa empresa “que tem vindo a ser destruída e que não cumpre os padrões mínimos” do serviço que devia prestar.
Os CTT é uma empresa que tem vindo a ser “pilhada pela administração” e descapitalizada e a greve “é importante para resgatar a empresa” e travar o processo de destruição, em curso nos últimos anos, afirmou o deputado.
CTT deviam voltar para a esfera do Estado, defende Arménio Carlos
O secretário-geral da central sindical CGTP, Arménio Carlos, defendeu ontem noite a necessidade de “fazer retornar os CTT à esfera do setor empresarial do Estado”.
Na dia em que começou uma greve de dois dias dos trabalhadores dos CTT, e depois de a administração da empresa ter anunciado a redução de 800 postos de trabalho, Arménio Carlos esteve com os primeiros trabalhadores em greve nas instalações centrais do CTT em Lisboa, onde também estiveram o secretário-geral da central sindical UGT, Carlos Silva, e o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa.
Aos jornalistas Arménio Carlos disse que o processo a ser desenvolvido pela administração dos CTT confirma que “a privatização dos CTT foi um erro monumental”, que foi benéfica para os acionistas mas “desastrosa para os trabalhadores e simultaneamente para a população”.
“Se este processo de privatização está errado então há tempo para o corrigir, fazendo retornar os CTT a esfera do setor empresarial do estado”, defendeu, lembrando o serviço público de caráter social que a empresa tem, porque através dela chegam por exemplo as pensões (por vales de correio) aos reformados, e que agora ficam “uma semana, duas e três” à espera de a receberem.
Arménio Carlos criticou também a autoridade reguladora, a ANACOM (Autoridade Nacional de Comunicações), que “não fez rigorosamente nada” em relação aos CTT, uma empresa que se tem “comportado mal”, e disse que a greve pode “criar uma linha de alerta” no país para que “populações se juntem aos trabalhadores” na defesa da melhoria da qualidade do serviço e contra o encerramento de balcões dos CTT.
“E se isso for feito, como já foi feito anteriormente, estamos convencidos que podemos travar, e condicionar, esta estratégia da administração, que é desastrosa para os trabalhadores e para o país”, disse, reiterando que é preciso “por os CTT novamente na esfera do setor empresarial do Estado”.
Também questionado pelos jornalistas o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, disse que o Governo tem de olhar para o que se está a passar “com olhos de ver” mas acrescentou: “Temos consciência de que o país não consegue enfrentar uma recompra dos CTT por 500 ou 600 milhões, agora tem de ser o Governo a perceber o que é que pode fazer para por um lado garantir o bom serviço publico, e por outro lado preservar postos de trabalho, porque os trabalhadores não são carne para canhão”.
“Tenho consciência que Portugal pode não poder (comprar a empresa) mas preferia que os CTT voltassem à esfera pública”, acrescentou.
Também prestando solidariedade aos trabalhadores em greve, o responsável referiu-se assim ao anúncio de que 800 trabalhadores poderão ser afastados: “Quando sabemos que eventualmente o custo de mandar 800 trabalhadores embora pode custar sete ou oito milhões de euros, mas que alguns administradores ganham quatro ou cinco milhões em conjunto, é para olharmos para isto com a relatividade que isto merece, e perceber que esse tempo, da outra senhora, já passou”.
Também salientando a importância dos CTT para o país, nomeadamente quem vive no interior, Carlos Silva considerou fundamental garantir os postos de trabalho e a pressão dos trabalhadores.
Na comissão de Trabalho da Assembleia da República serão ouvidos os sindicatos do setor e a administração dos CTT.
José Arsénio, secretário-geral do Sindicato Democrático dos Trabalhadores das Telecomunicações e dos Media (SIndetelco, UGT), disse que vai estar presente na reunião e acusou a administração dos CTT de “passar ao lado do setor postal” por só estar interessada no banco postal.
Vítor Narciso, pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações, que também estará presente na reunião no Parlamento, disse à Lusa que já saíram 140 trabalhadores dos CTT e afirmou também que a empresa já vendeu praticamente todos os edifícios.
O problema dos CTT “não está nas receitas mas sim nas despesas”, em assessorias e no banco postal, afirmou.
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